quinta-feira, 17 de maio de 2018

Moral e Dogma




Moral e Dogma
Albert Pike
(tradução: Ladislau Fuchs)

Prefácio do Autor
Este trabalho foi preparado para a Jurisdição Sul dos Estados Unidos. Contém os ensinamentos do Rito Escocês Antigo e Aceito para aquela Jurisdição, e é voltado especialmente para leitura e estudo pelos Irmãos daquela Obediência, em conexão com os rituais dos Graus.
Tem-se a esperança e espera-se que cada um receba uma cópia e se familiarize com ela.
Ao preparar este trabalho, o Grande Comendador foi tanto Autor quanto Compilador, já que extraiu perto da metade de seu conteúdo dos trabalhos dos melhores escritores e dos pensadores mais filosóficos ou eloquentes.
Talvez tivesse sido melhor e mais aceitável se tivesse extraído mais e escrito menos.
Ainda assim, talvez metade dele seja sua própria; e, ao incorporar aqui os pensamentos e palavras de outros, modificou e adicionou continuamente à linguagem, muitas vezes entretecendo, nas mesmas sentenças, suas palavras com as deles. O trabalho não se destina ao mundo em geral; sentiu a liberdade de elaborar, a partir de todas as fontes disponíveis, um Compêndio de Moral e Dogma do Rito, para re-moldar sentenças, alterar e acrescentar palavras e frases, combiná-las com suas próprias e usá-las como se fossem suas próprias, lidando com elas ao seu prazer e assim fazê-lo disponível para que seja o mais valioso possível para os propósitos tencionados. Reclama para si, portanto, pouco do mérito da autoria, e não se preocupou em distinguir o que é de sua criação do que tomou de outras fontes, esperando que todas as partes do livro, em contrapartida, sejam vistas como tendo sito tomadas emprestadas de algum escritor mais antigo e melhor.
Os ensinamentos destas Leituras não são sacramentais, pois vão além do campo da Moralidade para os domínios do Pensamento e da Verdade. O Rito Escocês Antigo e Aceito usa a palavra Dogma em seu sentido verdadeiro, de doutrina ou ensinamento; não é dogmático no sentido odioso do termo. Todos estão totalmente livres para rejeitar e discordar de qualquer coisa aqui que possa lhe parecer inverdade ou não-sólida. Apenas se espera dele que pese o que está sendo ensinado e que faça um julgamento de mente aberta e sem preconceito. Obviamente, as antigas especulações teosóficas e filosóficas não fazem parte das doutrinas do Rito, mas devido ao seu interesse e vantagem para o conhecimento do pensamento Intelectual Antigo sobre estes assuntos e, porque nada prova conclusivamente a diferença radical entre nossa natureza humana da animal, como a capacidade da mente humana de se dedicar a especulações sobre si mesmo e a Divindade. Em relação a essas opiniões, podemos dizer, nas palavras do douto canonista Ludovicus Gómez: “Opiniones secundum varietatem temporum senescant et intermoriantur, aliaeque diversae vel prioribus contrariae reniscantur et deinde pubescant.”
Os títulos dos Graus mostrados aqui mudaram em algumas instâncias.
Os títulos correctos são os seguintes:
1º Aprendiz
2º Companheiro
3º Mestre
4º Mestre Secreto
5º Mestre Perfeito
6º Secretário Íntimo
7º Preboste e Juiz
8º Intendente de Edifício
9º Eleito dos Nove
10º Eleito dos Quinze
11º Eleito dos Doze
12º Mestre Arquiteto
13º Arco Real de Salomão
14º Eleito Perfeito
15º Cavaleiro do Oriente
16º Príncipe de Jerusalém
17º Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18º Cavaleiro Rosa Cruz
19º Pontífice
20º Mestre da Loja Simbólica
21º Cavaleiro Noaquita ou Prussiano
22º Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
23º Chefe do Tabernáculo
24º Príncipe do Tabernáculo
25º Cavaleiro da Serpente de Bronze
26º Cavaleiro da Mercê
27º Cavaleiro Comandante do Templo
28º Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29º Cavaleiro Escocês de Santo André
30º Cavaleiro Kadosh
31º Inspetor Inquisidor

32º Mestre do Real Segredo

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Rito Escocês



Rito Escocês
O Rito Escocês Antigo e Aceito, REAA ou simplesmente Rito Escocês, é um dos vários Ritos Maçónicos. Um rito maçónico é um conjunto de especificações e preceitos utilizados para se praticar os rituais maçónicos. Eles descrevem a ritualista, procedimentos, listam os sinais, toques, palavras e demais instruções secretas ao público geral.

Os ensinamentos dos ritos são dados em série, divididos em graus. Cada grau traz ensinamentos e cerimónias próprias. O Rito Escocês tem trinta e três graus. Por ser o rito mais utilizado no Brasil, o senso comum o vê como único modelo de maçonaria. Mas há outros ritos, mais de duzentos, com quantidades diferentes de graus. Os trinta e três graus do rito são alcançados em diferentes corpos maçónicos. Os três primeiros graus nas Lojas Simbólicas, são os graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre que estão presentes em todos os ritos que são regulados pelos Grandes Orientes e Grandes Lojas. E os graus superiores ou altos graus, do quarto ao trigésimo terceiro, são alcançados nas Lojas de Perfeição, Capítulos e Areópagos, conselhos de Kadosh e Consistórios de Príncipes do Real Segredo, que são jurisdicionados aos Supremos Conselhos.

No geral é um rito ecuménico, com a finalidade inter-religiosa "semelhante ao sincretismo teísta mas independente a religião". Ligado ao Antigo Testamento e à lenda de Hiram, lenda base da Maçonaria simbólica, julga-se que alguns dos ritos descritos eram praticados por outras ordens "secretas" ou "esotéricas" existentes na França como os Martinistas, os Illuminati e os Rosa-Cruz na Alemanha, e na Escócia como a resistência dos Templários que ainda preservavam a sua ordem.

História

Os primeiros indícios do início do rito são de meados de 1733, registos que constam os graus chamados Mestres Escoceses. Lojas que funcionavam no Temple Bar, na Inglaterra, e outras Lojas Francesas guardam registos destes graus. As poucas referências encontradas indicam que estas eram sessões incomuns, realizadas em cerimónias especiais.

Existe muita controvérsia sobre a influência templária no REAA, mas os estudos mais actuais, feitos por Nicola Aslan e José Castellani, alegam que o templarismo não influenciou o REAA propriamente dito, mas sim ao Rito de Perfeição ou de Heredom, sob a pena de Andrew Ramsay, cavaleiro escocês que protagonizou a criação deste rito em solo francês. O Rito de Perfeição ou de Heredom foi por esse motivo o ponto de partida para o REAA, mas este sofreu vastas modificações até se ter tornado no que é hoje.

O Rito Escocês Antigo e Aceito

Enquanto os Antigos Deveres, tal como ficaram reflectidos nas Constituições de Anderson, estabeleciam uma relação directa entre as narrativas lendárias do Ofício e a Maçonaria especulativa, um texto como o Discurso de Ramsey (1736-1738) assinala na Ordem maçónica uma origem cavalheiresca que remota, pelo menos, ao tempo das cruzadas. O desenvolvimento do Escocismo, que conhecerá um período de crescimento nos primeiros anos da década de 1760, é um fenómeno surgido na Europa continental em que a França desempenhou um papel preponderante. Etienne MORIN, fundador da Loja Mãe Escocesa de Bordéus, organizou em São Domingo e na Jamaica, durante a década de 1760, a Maçonaria de Perfeição, com vinte e cinco graus. À excepção do grau eminentemente cavalheiresco de Sublime Príncipe do Real Segredo, que coroava o edifício, esta fundação utilizava os graus procedentes de França. Mas, enquanto esses graus se praticavam separadamente, agrupados em sequências diferentes segundo a qual fosse a Loja Mãe Escocesa que concedia a patente, o que impunha às vezes matizes importantes no seu conteúdo e prática, a fundação aludida determinou a sua forma, fixou o agrupamento dos graus, hierarquizou e estruturou a sua organização.

Os Fundadores

Devemos a Henry Andrew FRANCKEN, Deputado e Grande Inspector de Etienne MORIN na América do Norte, uma transcrição dos rituais da Maçonaria de Perfeição que constituem hoje uma preciosa referência para a prática do Rito Escocês Antigo e Aceito. A Maçonaria de Perfeição estava dirigida por um Soberano Grande Consistório criado em virtude das Constituições e Estatutos de 1762, chamados de Bordéus. A origem daquele documento fundador importa pouco, mas podemos reter a sua exposição de motivos, que conserva um carácter muito actual: trata-se “num século no qual os valores essenciais se vêm ameaçados, de restabelecer a Antiga Maçonaria conservando os seus mais santos mistérios”. A ideia de organizar harmoniosamente, naquele momento e num Rito, os diversos graus praticados, procede da noção da Ordem que esteve na origem daquilo que viria a ser o Rito Escocês Antigo e Aceito. A divisa ORDO AB CHAO, adoptada pelos fundadores do Rito, cujo sentido implica a acção de um princípio de ordem organizador e regularizador do caos inicial, sinalizava a sua vontade de por fim, definitivamente, à situação gerada pela anárquica proliferação de graus escoceses. A fundação do Rito Escocês Antigo e Aceito, como anteriormente a da Maçonaria de Perfeição, que adoptava o conjunto de graus, punha em prática graus praticados já anteriormente em França e nas Antilhas.

Supremo Conselho

A Maçonaria é uma ordem iniciática, tradicional e universal, baseada na fraternidade. Ela constitui uma aliança de homens de boa moral, de todas as origens, nacionalidades, cultura e crenças. Os Maçons reúnem-se em Lojas – ou Ateliês - onde se reúnem periódica e ritualmente. O mais importante rito do mundo é o Rito Escocês Antigo e Aceito. O Rito Escocês Antigo e Aceite contêm 33 graus. Os três primeiros são administrados pelas Grandes Lojas. Os restantes 30 graus (do 4º ao 33º Grau) são administrados pelo "Supremo Conselho do 33º e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito." Todos os Supremos Conselhos regularmente constituídos no mundo trabalham "para a Glória do Grande Arquitecto do Universo." A sua divisa é “DEUS MEUMQUE JUS”. Estas instituições são definidas pelos textos fundadores, pelas Constituições de Bordéus de 1762, pela Grande Constituição de Berlim de 1786 e revista no Convento Internacional do Supremos Conselhos reunidos em Lausana em 1875. Cada Supremo Conselho tem a sua soberania plena no seu território, uma soberania plena e com total independência. Os Supremos Conselhos não interferem na legislação e administração das Grandes Lojas. Os Supremos Conselhos governam exclusivamente as oficinas do 4º ao 33º grau.

Localidade

O rito não foi idealizado na Escócia, mas leva este nome por ter suas raízes lá. Ele começou a ser formulado na França com o nome de Rito de Heredom e possuía apenas vinte e cinco graus. Foi nos EUA que ele passou a ser chamado de Rito Escocês Antigo e Aceito e mais oito graus foram adicionados, somando os actuais trinta e três graus. Em 1855 começou a ser revisado por Albert Pike passando a ser praticado por um contingente maior de maçons e em 1801 foi criado o Primeiro Supremo Conselho, ou "Mãe do Mundo", hoje conhecido como Supremo Conselho do Rito Escocês da Jurisdição Sul dos EUA.

O Rito chega aos EUA no final do século XVIII com vinte e dois graus apenas. Foi a influência dos "11 cavalheiros de Charleston", na Carolina do Sul que adicionou mais sete graus filosóficos e um grau honorifico e em 1801 foi criado o primeiro Conselho Supremo para administrar os trinta graus do rito.

Origem do Nome

Maçons Antigos, Livres & Aceitos é um termo presente na maçonaria mesmo antes da criação do REAA. Pode aparecer informalmente após o nome de órgãos maçónicos, como potencias, ou fazer parte de nomes oficiais. É comum que algumas vezes retirem o termo Antigo utilizando apenas Livres e Aceitos. Foi este costume que influenciou a escolha do nome do Rito Escocês Antigo e Aceito.

No século XVIII havia duas Grandes Lojas rivais na Inglaterra. Os membros da "Grande Loja dos Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra", fundada em 1717, eram conhecidos como Modernos, já os membros da "Grande Loja dos Maçons Livres e Aceitos da Inglaterra de acordo com as Antigas Constituições", conhecida como "Antiga Grande Loja da Inglaterra", eram chamados de Antigos. Depois de mais de meio século de rivalidade, as duas potencias maçónicas resolveram se unir em 1813, com isso muitas lojas usavam "Maçons Livres e Aceitos" e outras usavam o "Antigo".

Foi esta influência inglesa que deu o nome ao Rito Escocês Antigo e Aceito. Diferente do termo "Livre e Aceito", também comum na maçonaria, que se refere respectivamente aos maçons operativos que tinham direito de viajar entre os feudos livremente e Aceitos se referindo aos maçons especulativos que passaram a ser aceitos na maçonaria.

Albert Pike

Albert Pike é o responsável pela mais importante revisão e estruturação que o REAA recebeu. Com dez anos de maçonaria, Pike foi convencido por Albert Mackey para ingressar no REAA. Viajou para Charleston, onde ficava o Supremo Conselho, e recebeu as instruções do 4.º ao 32.º grau e começou a ajudar o conselho a estruturar, revisar e consolidar o rito. Em 1860, a Guerra de Secessão forçou o Supremo Conselho a se mudar para Washington, D.C.

Em dois anos Pike acabou o trabalho e recebeu o grau honorífico de Soberano Grande Comendador, o grau 33 do REAA, em 1859. Outras edições do trabalho foram feitas, mas a oficial foi publicada em 1884 com título Moral e Dogma do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria, ou simplesmente Moral e Dogma.

Graus do Rito Escocês Antigo e Aceito

Quando os maçons atingem o 3º Grau, estão em pleno gozo de suas prerrogativas maçónicas, uma vez que originalmente a Grande Loja Unida da Inglaterra trabalhou sucessivamente com dois (Aprendiz e Companheiro) e depois com três graus que ensinavam a parte da filosofia base da simbólica maçónica.

Os graus referidos como "superiores" são elevados e em número de trinta, onde a filosofia e a moral são estudadas simbolicamente, em cada grau, com lendas ou mitos a estes associados. Eles são geridos por vários Supremos Conselhos, que têm como objectivo manter a uniformidade mundial dos rituais e dos métodos utilizados.

Existe também o Rito Escocês Rectificado, também chamado de Rito de Willermoz em alusão ao seu idealizador, Jean Baptiste Willermoz, que tencionava trazer de volta o rito às suas origens templárias com fortes ecos no Rito de Perfeição ou de Heredom, do qual deriva o Rito Escocês Antigo e Aceito.

Graus simbólicos ou tradicionais

1) Aprendiz
2) Companheiro
3) Mestre

Inefáveis (Lojas de Perfeição)

4) Mestre Secreto
5) Mestre Perfeito
6) Secretário Íntimo ou Mestre por Curiosidade
7) Preboste e Juiz ou Mestre Irlandês
8) Intendente dos Edifícios ou Mestre em Israel
9) Cavaleiro Eleito dos Nove ou Mestre Eleito dos Nove
10) Cavaleiro Eleito dos Quinze ou Ilustre Eleito dos Quinze
11) Sublime Cavaleiro dos Doze ou Sublime Cavaleiro Eleito
12) Grão-Mestre Arquitecto
13) Cavaleiro do Real Arco (de Enoch)
14) Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom

Capitulares (Capítulos Rosa-Cruzes)

15) Cavaleiro do Oriente ou da Espada
16) Príncipe de Jerusalém (Grande Conselheiro)
17) Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18) Cavaleiro ou Soberano Príncipe Rosa-Cruz

Filosóficos (Areópagos ou Conselhos de Kadosh)

19) Grande Pontífice ou Sublime Escocês de Jerusalém Celeste
20) Soberano Príncipe da Maçonaria ou Mestre "ad Vitam" ou Venerável Grão-Mestre de todas as lojas
21) Cavaleiro Prussiano ou Noaquita
22) Cavaleiro Real Machado ou Príncipe do Líbano
23) Chefe do Tabernáculo
24) Príncipe do Tabernáculo
25) Cavaleiro da Serpente De Bronze
26) Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário
27) Grande Comendador do Templo ou Soberano Comendador do Templo de Salomão
28) Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29) Grande Cavaleiro Escocês de Santo André da Escócia ou Patriarca dos Cruzados ou Grão-Mestre da Luz
30) Grande Inquisidor, Grande Eleito Cavaleiro Kadosh ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra

"Administrativos (Consistórios de Príncipes do Real Segredo)"

31) Grande Juiz Comendador ou Grande Inspector Inquisidor Comendador
32) Sublime Cavaleiro do Real Segredo ou Soberano Príncipe da Maçonaria
33) Grande Inspector-geral.

Rito de Perfeição e Rito Escocês

O Rito de Perfeição ou de Heredom continha oito graus a menos, além de outras diferenças. Os nomes dos graus variam muito de um Supremo Conselho para outro.

Rito de Perfeição  Rito Escocês

1. Aprendiz - 1. Aprendiz
2. Companheiro   - 2. Companheiro
3. Mestre - 3. Mestre
4. Mestre Secreto - 4. Mestre Secreto
5. Mestre Perfeito - 5. Mestre Perfeito
6. Secretário Íntimo - 6. Secretário Íntimo
7. Intendente dos Edifícios - 7. Preboste e Juiz
8. Preboste e Juiz - 8. Intendente dos Edifícios
9. Eleito dos Nove - 9. Eleito dos Nove
10. Eleito dos Quinze - 10. Ilustre Eleito dos Quinze
11. Ilustre Eleito Chefe das Doze Tribos - 11. Sublime Cavaleiro Eleito
12. Grande Mestre Arquiteto   - 12. Grande Mestre Arquiteto
13. Real Arco de Salomão - 13. Cavaleiro do Real Arco
14. Grande Eleito, Antigo e Perfeito Mestre - 14. Grande Eleito, Perfeito e Sublime Maçom
15. Cavaleiro da Espada - 15. Cavaleiro do Oriente ou da Espada
16. Príncipe de Jerusalém - 16. Príncipe de Jerusalém
17. Cavaleiro do Oriente e do Ocidente -17. Cavaleiro do Oriente e do Ocidente
18. Cavaleiro Rosa-Cruz - 18. Cavaleiro Rosa-Cruz
19. Grande Pontífice -19. Grande Pontífice ou Sublime Escocês
20. Noaquita ou Cavaleiro Prussiano - 20. Soberano Príncipe da Maçonaria ou Mestre Ad-vitam
21. Grande Patriarca - 21. Noaquita ou Cavaleiro Prussiano
22. Príncipe do Líbano - 22. Cavaleiro do Real Machado ou Príncipe do Líbano
23. Chefe do Tabernáculo
24. Príncipe do Tabernáculo
25. Cavaleiro da Serpente de Bronze
26. Príncipe da Mercê ou Escocês Trinitário
27. Grande Comandante do Templo
28. Cavaleiro do Sol ou Soberano Príncipe Adepto - 28. Cavaleiro do Sol ou Príncipe Adepto
29. Ilustre Cavaleiro Comandante da Águia Branca e Negra  - 29. Grande Cavaleiro Escocês de Santo André
30. Ilustre e Soberano Príncipe da Maçonaria, Grande Cavaleiro Comandante do Real Segredo         - 30 Cavaleiro Kadosh ou Cavaleiro da Águia Branca e Negra
31. Grande Inspector Inquisidor
32. Sublime Príncipe do Real Segredo
33. Grande Inspector Geral da Ordem

(da Vikipédia)

sábado, 12 de maio de 2018

O DISCURSO DE RAMSAY em 1738



O DISCURSO DE RAMSAY em 1738

“Senhores,

O nobre entusiasmo que vocês demonstraram para ingressar na antiga e mui ilustre Ordem dos francomaçons é uma prova evidente de que já possuem todas as qualidades necessárias para tornarem-se membros. Estas qualidades são: a filantropia prudente, a moral pura, o segredo inviolável e o gosto pelas belas artes.

Licurgo, Sólon, Numa e todos os outros legisladores políticos não conseguiram que suas instituições fossem duradouras, pois por mais sábias que tivessem sido suas leis, elas não puderam se estender a todos os países e nem se adaptar aos gostos, génios e interesses de todas as nações. Na realidade, não se baseavam na filantropia. O mal entendido amor pela pátria, levado ao excesso, destruía frequentemente o amor pela humanidade em geral em todas estas repúblicas guerreiras. Os homens, fundamentalmente, não se diferenciam pelas línguas que falam, pelas roupas que vestem, pelos países em que vivem ou pelas dignidades com que estão revestidos. O mundo inteiro nada mais é do que uma grande república, na qual cada nação é uma família e cada indivíduo é uma criança.

Nossa Sociedade se estabeleceu para fazer reviver e para propagar as antigas máximas que foram tomadas da natureza do ser humano. Queremos reunir todos os homens de mente preclara e de humor agradável não só mediante ao amor pelas belas artes, mas também pelos grandes princípios da virtude. Neles, o interesse pela confraria deve ser o mesmo que se tem por todo o género humano, para que através deles todas as nações possam obter conhecimentos sólidos e os habitantes dos mais diferentes reinos possam cooperar sem ciúme, viver sem discórdia e se amar mutuamente sem renunciar à suas pátrias.

Nossos ancestrais, os Cruzados, vindos de todas as partes da cristandade e reunidos na Terra Santa, quiseram desta forma agrupar os habitantes de todas as nações em uma só fraternidade. Foram estes homens superiores que, sem interesses vulgares e sem escutar o desejo natural de dominar, imaginaram uma instituição cujo único propósito seria unir as mentes e os corações com o propósito de torná-los melhores. E, sem ir contra os deveres exigidos pelos mais diferentes Estados, formarem através dos tempos uma nação espiritual na qual será criado um novo povo que, ao ter características de muitas nações, cimentará, por assim dizer, todas com os vínculos da virtude e da ciência.

A moral pura é o segundo requisito de nossa Sociedade. As Ordens Religiosas se estabeleceram para que os homens pudessem se tornar cristãos perfeitos, as Ordens Militares para inspirar o amor pela glória nobre e a Ordem dos francomaçons se estabeleceu para formar homens amáveis, bons cidadãos e bons patriotas, invioláveis em suas promessas, fiéis adoradores de Deus e da amizade, e mais amantes da virtude do que das vantagens.

Polliciti servare fidem, sanctumque vereri
Numen amicito, mores, non munera amare.

 (Tendo feito uma promessa, manter a fé, o respeito ao sagrado
nome da amizade, e preferir um bom carácter do que a riqueza.)

No entanto, não nos limitamos a virtudes puramente civis. Temos entre nós três categorias de irmãos: Iniciantes ou Aprendizes, Companheiros ou Professos e Mestres ou Perfeitos. Aos primeiros ensinamos as virtudes morais e filantrópicas, aos segundos as virtudes heróicas, aos últimos as virtudes sobre-humanas e divinas. É por isso que nossa instituição incorpora toda a filosofia dos sentimentos e toda a teologia do coração. É por esta razão que um de nossos veneráveis irmãos, em uma ode cheia de entusiasmo nobre, disse:

Francomaçons, Ilustre Grão Mestre
Recebam meus primeiros arrebates
Os fez nascer em meu coração a Ordem
Feliz! Sim, esforços nobres
Fazem-me a estima vossa merecer
Ao verdadeiro sublime ascender
A verdade primeira
A essência pura e divina
Da origem da alma celeste
Fonte de vida e clareza.

 Sabendo que uma filosofia severa, solitária, triste e misantrópica priva aos homens o gosto pelas virtudes, nossos ancestrais, os Cruzados, quiseram torná-la agradável com o atractivo dos prazeres inocentes, músicas agradáveis, alegria pura e moderada. Nossos sentimentos não são o que o mundo profano e os vulgos ignorantes imaginam. Todos os vícios do coração e do espírito são banidos, assim como a irreligião, a libertinagem, a descrença e a selvajaria. É com este espírito que um de nossos poetas disse:

Seguimos hoje trilhas pouco percorridas
Esforçamo-nos para construir e todas nossas construções
Ou são masmorras aos vícios
Ou templos às virtudes.

 Nossos banquetes se assemelham aos virtuosos banquetes de Horácio nos quais se podia falar de tudo que iluminava o espírito, perfeicionava o coração e inspirava o gosto pelo verdadeiro, pelo bom e pelo belo:

O noctes coenaeque Deum…
Sermo oritur non de regnis domibusve alenis;
… sed quod magis ad nos
Pertinet, et nescire malum est, agitamos; utrumne
Divitiis homines, na sint virtute beati;
Quidve ad amicitias usus rectumve trahat nos
Et quae sit natura boni, summumque quis ejus.

(Oh! Noites e ceias dos deuses…
A conversa começa, não sobre os reinos ou casas de outros homens;
…mas o que nos interessa mais
E isso não é para se saber, nós discutimos:
Se os homens são felizes pela riqueza ou pela virtude;
Ou o que os atrai para a amizade: utilidade? Ou rectidão?
E o que é a natureza do bem, e qual seu maior objectivo.)

Aqui o amor por todos os desejos é fortificado. Eliminamos de nossas Lojas toda disputa que poderia perturbar a tranquilidade de espírito, a mansidão dos costumes, os sentimentos de amizade e a harmonia perfeita que somente são encontradas na eliminação de todos os excessos indevidos e de todas as paixões discordantes.

Portanto, as obrigações impostas pela Ordem são: proteger os irmãos através da argumentação, esclarecê-los através de seus conhecimentos, edificá-los com as virtudes que vocês possuem, socorrê-los em suas necessidades, sacrificar todo o ressentimento pessoal e buscar tudo o que pode contribuir com a paz, a concórdia e a união da sociedade.

Possuímos segredos: são sinais figurativos e palavras sagradas que constituem uma linguagem às vezes muda e às vezes muito eloquente, com a finalidade de transmitir e reconhecer a nossos irmãos a grandes distâncias sem importar seu idioma ou país. Eram, aparentemente, palavras de guerra que os Cruzados trocavam para se protegerem das surpresas dos Sarracenos, que muitas vezes se infiltravam disfarçados para traí-los e assassiná-los. Estes sinais e estas palavras nos relembram algum aspecto de nossa ciência, alguma virtude moral ou algum mistério da fé.

Ocorreu connosco o que mui dificilmente sucedeu com outra Sociedade.

Nossas Lojas foram constituídas e se difundem hoje em todas as nações civilizadas e, no entanto, apesar de toda a multidão de membros, nunca nenhum irmão traiu nossos segredos. As pessoas mais frívolas, as mais indiscretas e as menos instruídas a guardar silêncio, aprendem esta grande ciência assim que entram em nossa Sociedade, tão grande é o poder que a ideia de união fraterna tem sobre os espíritos! Este segredo inviolável contribui de forma poderosa para vincular os habitantes de todos os países e tornar fácil e mútua a comunicação das boas acções. Encontramos muitos exemplos disso nos anais de nossa Ordem: nossos irmãos que viajavam a diferentes países da Europa, ao se encontraram em necessidade, deram-se a conhecer a nossas Lojas e em seguida foram supridos com toda a ajuda necessária. Mesmo na época das guerras mais sangrentas, alguns ilustres prisioneiros encontraram irmãos onde acreditavam que encontrariam nada além de inimigos.

Se alguém quebra as promessas solenes que nos ligam, vocês sabem Senhores, que as maiores penas são o remorso da consciência, a vergonha por sua perfídia e a exclusão de nossa Sociedade segundo as belas palavras de Horácio:

Est et fideli tuta silentio
Merces; vetabo qui Cereris sacrum
Vulgarit arcanae, sub isdem
Sit trabibus, fragilemve mecum
Solvat phaselum…

(É o silêncio fiel uma recompensa garantida;
Mas para aquele que divulga os ritos da misteriosa Céres,
Proíbo-o de viver debaixo de meu telhado,
Ou de embarcar comigo num frágil bote.)

Sim senhores, as famosas festas de Céres em Eleusis, das quais fala Horácio, assim como as de Ísis no Egito, de Minerva em Atenas, de Urânia entre os Fenícios e de Diana em Scythia foram relacionadas às nossas solenidades. Nestas festas se celebravam mistérios nos quais se encontravam muitos vestígios da antiga religião de Noé e de seus patriarcas. Em seguida essas festas se encerravam com banquetes e libações, porém sem os excessos, as selvajarias e a intemperança em que pouco a pouco caíram os pagãos. Admitir pessoas de ambos os sexos nas assembleias nocturnas, opondo-se assim a primitiva instituição, foi a causa de todas as infâmias. É para evitar abusos semelhantes que as mulheres não participam de nossa Ordem. Não é por sermos injustos e considerarmos o sexo feminino como incapaz de manter um segredo, mas é que suas presenças poderiam alterar ligeiramente a pureza de nossas máximas e de nossos costumes:

Se o sexo é banido, não há alarde
Não é um insulto à sua fidelidade
Mas tememos que, ao entrar o amor com seus encantos
Provoque o esquecimento da fraternidade
Os nomes Irmão e Amigo seriam armas fracas
Para proteger o coração contra a rivalidade.

A quarta qualidade requerida para o ingresso em nossa Ordem é o gosto pelas ciências úteis e pelas artes liberais de todos os géneros. Assim, a Ordem exige de cada um de vocês que contribuam para com sua protecção, sua liberalidade ou seu trabalho numa grande obra na qual nenhuma Academia ou Universidade seriam suficientes, porque todas as sociedades particulares, ao estarem compostas por uma quantidade muito pequena de homens, não podem almejar com seu trabalho um objectivo tão imenso.

Todos os Grandes Mestres da Alemanha, Inglaterra, Itália e de toda a Europa exortam a todos os eruditos e artistas da confraria a unirem-se com o fim de prover a documentação para um Dicionário Universal de todas as artes liberais e de todas as ciências úteis, com a única excepção da teologia e da política. Este trabalho já foi começado em Londres, porém com a união de nossos irmãos poder-se-á levar esta obra à perfeição em poucos anos. Nela se explicará não só os vocábulos técnicos e sua etimologia, mas também apresentará a história da ciência e da arte, seus grandes princípios e a maneira de trabalhar com eles. Deste modo, reunir-se-ão as mentes de todas as nações em um trabalho único, que será como um depósito geral e uma biblioteca universal de todo o belo, o grande, o brilhante, o sólido e o útil que existem em todas as ciências naturais e em todas as artes nobres. Esta obra aumentará em cada século, à medida que aumentem os conhecimentos. É assim que se difundirá uma nobre emulação pelas belas letras e pelas belas artes por toda a Europa.

O nome Francomaçons não deve, portanto, ser tomado no sentido literal, vulgar e material, como se nossos instrutores tivessem sido simples trabalhadores da pedra ou do mármore, ou simplesmente génios curiosos que queriam aperfeiçoar as artes. Não só eram hábeis arquitectos que queriam consagrar seus talentos e seus recursos para a construção de templos exteriores, mas também eram príncipes religiosos e guerreiros que queriam iluminar, edificar e proteger os templos vivos do Altíssimo. É o que darei a conhecer a vocês a seguir, com o desenrolar da origem e da história da Ordem.

Toda família, toda república e todo império cuja origem se perde na noite dos tempos, tem sua fábula e tem sua verdade, sua lenda e sua história, sua ficção e sua realidade. Alguns consideram que nossa instituição remonta ao tempo de Salomão, de Moisés, dos patriarcas, e atém mesmo do próprio Noé. Outros afirmam que nosso fundador foi Enoch, o neto de Adão que construiu a primeira cidade e deu a ela o seu nome. Mencionei brevemente esta origem fabulosa antes de chegar a nossa história verdadeira. É nesse contexto, portanto, de acordo com o que pode ser encontrado nos mui antigos anais da história da Grã-Bretanha, nas actas do Parlamento da Inglaterra, que muitas vezes falam sobre nossos privilégios, onde se diz que na tradição viva da nação britânica é que, desde o século XI, tem sido o centro e a sede de nossa irmandade.

Desde a época das guerras santas na Palestina, muitos príncipes, senhores e cidadãos se uniram, fizeram voto de restabelecer os templos cristãos na Terra Santa e, por meio de um juramento, se comprometeram a empregar seus talentos e seus bens para devolver à arquitectura a sua constituição original. Adaptaram de comum acordo vários sinais antigos, palavras simbólicas tomadas do fundo da religião, para diferenciarem-se dos infiéis e se reconhecerem entre os Sarracenos. Estes sinais e estas palavras só eram comunicados aos que prometiam solenemente, muitas vezes até mesmo aos pés do altar, jamais revelá-los. Esta promessa sagrada já não era então um juramento execrável, como se conta, mas um vínculo respeitável para unir os homens de todas as nações em uma mesma fraternidade. Tempos depois, nossa Ordem se uniu intimamente com os cavaleiros de São João de Jerusalém. Desde então, nossas Lojas tomaram o nome de Lojas de São João em todos os países. Esta união ocorreu em imitação aos israelitas que, quando construíram o segundo templo, trabalhavam com uma mão na espátula e na argamassa, e a outra na espada e no escudo (Esdras, Cap 4, v. 16).

Logo, nossa Ordem não deve ser considerada uma renovação dos bacanais e uma fonte de desperdício excessivo, de libertinagem desenfreada e de intemperança ultrajante, mas sim uma Ordem moral, instituída pelos nossos ancestrais na Terra Santa para fazer recordar as verdades mais sublimes, através dos prazeres inocentes da Sociedade.

Os reis, príncipes e senhores, voltado da Palestina para seus países, fundaram diversas Lojas. Desde a época das últimas cruzadas já se observa a fundação de muitas delas na Alemanha, Itália, Espanha, França e daí na Escócia, devido à íntima aliança que então existia entre estas duas nações.

O senhor James Stuart da Escócia foi Grão Mestre de uma Loja que foi criada em Kilwinning, no oeste escocês, no ano de 1286, pouco tempo depois da morte do rei Alexandre III da Escócia, e um ano antes de John Balliol subir ao trono. Este senhor escocês iniciou em sua Loja os condes de Gloucester e de Ulster, senhores ingleses e irlandeses.

Pouco a pouco, nossas Lojas, nossas festas e solenidades foram negligenciadas na maioria dos países em que foram estabelecidas. Esta é a razão do silêncio dos historiadores de quase todos os reinos em relação à nossa Ordem, com excepção dos historiadores da Grã-Bretanha. Entretanto, tudo foi conservado em todo seu esplendor entre os escoceses, a quem nossos reis confiaram durante muitos séculos a custódia de suas sagradas pessoas. Depois dos deploráveis reveses das cruzadas, da decadência do exército cristão e do triunfo de Bendocdar Sultão do Egipto, durante a oitava e última cruzada, o filho de Henrique III da Inglaterra, o grande príncipe Eduardo, vendo que já não havia mais segurança para seus irmãos na Terra Santa, fê-los regressar quando todas as tropas cristãs se retiraram, e foi assim como essa colónia de irmãos se estabeleceu na Inglaterra. Como este príncipe estava dotado de todas as qualidades do coração e do espírito que formam os heróis, ele amou as belas artes, declarou-se protector de nossa Ordem, outorgou-lhe muitos privilégios e isenções e desde então os membros dessa confraria tomaram o nome de Francomaçons.

A partir deste momento a Grã-Bretanha se tornou a sede de nossa ciência, a conservadora de nossas leis e a depositária de nossos segredos. As fatais discórdias religiosas que inflamaram e desuniram a Europa no século XVI fizeram com que nossa Ordem se desviasse da grandeza e nobreza de sua origem. Alteraram-se, disfarçaram-se e se suprimiram muitos de nossos ritos e costumes que eram contrários aos preconceitos da época. Foi assim que muitos de nossos irmãos esqueceram, igual aos antigos judeus, o espírito de nossa lei e apenas conservaram sua letra e sua aparência exterior. Nosso Grão-Mestre, cujas qualidades respeitáveis superam o seu nascimento nobre, deseja devolver tudo à sua constituição inicial, em um país em que a religião e o Estado não podem nada mais do que favorecer nossas leis.


Das ilhas britânicas, a antiga ciência começou a migrar para a França novamente, sob o reinado do mais amável dos reis, cuja humanidade é a alma de todas as virtudes, com a intervenção de um mentor que realizou tudo de fabuloso que se tinha imaginado. Neste momento feliz em que o amor pela paz torna-se a virtude dos heróis, a nação mais espiritual da Europa chegará a ser o centro da Ordem. Derramará sobre nossas obras, nossos estatutos e nossos costumes, as graças, a delicadeza e o bom gosto, qualidades essenciais em uma Ordem cuja base é a sabedoria, a força e a beleza do génio. É em nossas futuras Lojas, como em escolas públicas, onde os franceses verão, sem precisar viajar, as características de todas as nações, e será nestas mesmas Lojas onde os estrangeiros aprenderão pela experiência que a França é a verdadeira pátria de todos os povos. Patria gentis humanae (Pátria da raça humana).”

Marsílio Ficino

Marsílio Ficino

Marsílio Ficino (Figline Valdarno, 19 de outubro de 1433 – Careggi, Florença, 1 de outubro de 1499), filósofo italiano, é o maior representante do Humanismo florentino.

Juntamente com Giovanni Pico della Mirandola, está na origem dos grandes sistemas de pensamento renascentistas e da filosofia do século XVII. Traduziu obras de Platão e difundiu suas ideias.

Depois de adquirir as primeiras noções de língua grega, inicia seus estudos de filosofia e já em 1454, aos 19 anos, escreve uma colectânea de textos em latim, a Summa philosophiae, em que trata de física, de lógica, de Deus e de aliae multae questiones. Em suas cartas a amigos, mostra profundo interesse em prosseguir seus estudos platónicos. Estudou também os textos de Galeno, Hipócrates, Aristóteles, Averróis e Avicena.

Marsílio Ficino teve a fortuna de ser filho do médico dos poderosos Médicis de Florença. Assim, desde a sua juventude tornou-se amigo e manteve estreita relação intelectual com Cosme de Médici, o Velho, um dos homens mais ricos da Europa àquela época e grande entusiasta da cultura grega. Cosme escolheu Ficino a estudar e difundir a tradição platónica em Florença. Para tanto, doou-lhe uma "villa" em Careggi, na parte norte de Florença, para ali sediar a academia platónica, ou antes, neoplatonica florentina, inspirada na antiga Academia de Platão. Além disso, Cosme confiou-lhe também a missão de traduzir o Corpus Hermeticum - os escritos atribuídos ao legendário Hermes Trismegisto - bem como as Eneadas de Plotino, entre outros textos de filósofos neoplatônicos. Após a morte de Cosme, seu filho Pedro e depois o neto, Lourenço, o Magnífico, continuaram a apoiá-lo.

As atividades da Academia consistiam em reuniões, debates, discursos, cantos e bailes ao som da lira, em um estilo de vida não guiado por um regulamento preciso mas pela personalidade de Ficino. Anualmente, no dia 7 de Novembro, suposta data do aniversário de Platão, um selecto grupo de intelectuais se reunia em Careggi, a convite de Lourenço, para um banquete, claramente alusivo a "O Banquete" de Platão.

Marsilio Ficino utilizou pela primeira vez a expressão Amor platonicus, como um sinónimo de amor socrático.

Como um homem do Renascimento, Ficino tinha também conhecimentos em outras áreas, tais como medicina e música, mas revelou-se sobretudo um grande tradutor. Traduziu para o latim não só a obra de Platão (1477) mas também, por sugestão de Pico della Mirandola, Plotino (1485) e outros neoplatônicos. Seu trabalho de tradução terá influência decisiva para a formação do pensamento da Idade de Ouro da Renascença.

Em 1473 foi ordenado padre. Não obstante, por seu interesse pelas ciências ocultas é acusado de necromancia em 1482, e escreve uma Apologia em sua própria defesa.

Com a morte de Lourenço, em 1492, rompe-se o equilíbrio político entre Florença e os demais estados italianos, obtido graças a sua grande habilidade política. Segue-se um período sangrento de guerras e invasões. O declínio dos Médicis influirá negativamente sobre a vida de Ficino. As actividades da Academia são extintas e seu pensamento será duramente criticado pelo poderoso clérigo Girolamo Savonarola, contra o qual o Ficino escreverá uma Apologia em 1498. Desgostoso, o filósofo se retira, vindo a falecer em sua casa de Careggi, em 1499.

Obra filosófica

A parte mais substancial da obra filosófica de Marsílio Ficino foi completada entre 1458 e 1493. Sua Theologia platonica ou De immortalitate animarum, dedicada a Lourenço de Médicis, é considerada a síntese do seu pensamento hermético e filosófico. Trata-se de um tratado sistemático sobre a imortalidade da alma, no qual procura conciliar o platonismo e o cristianismo.

Seu pensamento propõe uma visão do Homem com forte afinidade cósmica e mágica, no centro de uma machina mundi animada e altamente espiritualizada, porque imbuída do spiritus mundi. A função principal do pensamento humano seria a de atingir - através de uma iluminação racional (ratio), intelectual (mens) e imaginativa (spiritus e fantasia) - a autocosciência da própria imortalidade e a divinização do Homem, graças àqueles signa e symbola - signos cósmicos e astrais comparáveis a hieróglifos universais, originários do mundo celeste.

Existiria, segundo Ficino, uma antiga e consistente tradição teológica - desde Hermes Trimegisto até Platão, passando por Zoroastro, Orfeu, Pitágoras e outros - que se propõe a subtrair a alma do engano dos sentidos e da fantasia, para conduzi-la à mente que percebe a verdade e a ordem de todas as coisas que existem em Deus ou que emanam de Deus. Assim estabelecia vínculos dessa antiga tradição com o Cristianismo, exprimindo o universalismo religioso da Renascença.

Segundo Ficino, o agir humano em todas as suas manifestações - artísticas, técnicas, filosóficas ou religiosas - exprime, no fundo, a presença divina de uma mens infinita na Natureza, dentro de uma visão cíclica da história, marcada pelo mito do retorno platónico. Sua ideia animadora é a exaltação do homem como microcosmo, síntese do universo, um conceito antigo, neoplatonico, mas que teve no Humanismo do Renascimento valor e significado particulares. Outra ideia que o inspirava é a da continuidade do desenvolvimento religioso, desde os antigos sábios e filósofos - Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Platão - até o cristianismo, ideia que expressa o universalismo religioso da Renascença.

A actividade principal de Marsílio Ficino foi traduzir. Traduziu elegantemente, para o latim, Platão (1477) e Plotino (1485), além de outros neoplatônicos. Expôs o seu pensamento em uma grande obra (Theologia platonica de immortalitate animorum - 1491), em que procura concordar o platonismo, do qual era entusiasta, com o cristianismo, em que acreditava seriamente. Entretanto não foi um metafísico, mas um eclético e suas finalidades eram morais.

Frases
"O Homem é o mais desgraçado dos animais: além da imbecillitas corporis, comum a todos os viventes, tem também a inquietudo animi, isto é, a certeza de dever morrer."

"E assim, portanto, há uma idade que temos que chamar de ouro... e que o nosso século seja assim, áureo, ninguém duvidará disso se tomar em consideração os admiráveis engenhos que nele se achou."

Sobre a razão:

"Conhece-te a ti mesmo, ó linhagem divina vestida com trajes mortais. Despe-te, eu te peço, separa o quanto podes, e podes o quanto te esforces; separa, digo, a alma do corpo, a razão dos afectos do sentido. Verás logo, cessadas as brutalidades terrenas, um puro ouro, e, afastadas as nuvens, verás um luminoso ar; e então, acredita-me, respeitarás a ti mesmo como um raio eterno do divino sol." (Lettere, ep. 110, 1-9)

Sobre o amor:

"Quando dizemos amor, entendam desejo de beleza." (Sopra lo Amore, I iv)

Sobre a alma:

Anima copula mundi. (A alma racional como termo médio entre o divino e o terreno)

(da Vikipédia)