Marsílio
Ficino
Marsílio
Ficino (Figline Valdarno, 19 de outubro de 1433 – Careggi, Florença, 1 de
outubro de 1499), filósofo italiano, é o maior representante do Humanismo florentino.
Juntamente
com Giovanni Pico della Mirandola, está na origem dos grandes sistemas de
pensamento renascentistas e da filosofia do século XVII. Traduziu obras de
Platão e difundiu suas ideias.
Depois
de adquirir as primeiras noções de língua grega, inicia seus estudos de
filosofia e já em 1454, aos 19 anos, escreve uma colectânea de textos em latim,
a Summa philosophiae, em que trata de física, de lógica, de Deus e de aliae
multae questiones. Em suas cartas a amigos, mostra profundo interesse em
prosseguir seus estudos platónicos. Estudou também os textos de Galeno,
Hipócrates, Aristóteles, Averróis e Avicena.
Marsílio
Ficino teve a fortuna de ser filho do médico dos poderosos Médicis de Florença.
Assim, desde a sua juventude tornou-se amigo e manteve estreita relação
intelectual com Cosme de Médici, o Velho, um dos homens mais ricos da Europa
àquela época e grande entusiasta da cultura grega. Cosme escolheu Ficino a
estudar e difundir a tradição platónica em Florença. Para tanto, doou-lhe uma
"villa" em Careggi, na parte norte de Florença, para ali sediar a
academia platónica, ou antes, neoplatonica florentina, inspirada na antiga
Academia de Platão. Além disso, Cosme confiou-lhe também a missão de traduzir o
Corpus Hermeticum - os escritos atribuídos ao legendário Hermes Trismegisto -
bem como as Eneadas de Plotino, entre outros textos de filósofos neoplatônicos.
Após a morte de Cosme, seu filho Pedro e depois o neto, Lourenço, o Magnífico,
continuaram a apoiá-lo.
As
atividades da Academia consistiam em reuniões, debates, discursos, cantos e
bailes ao som da lira, em um estilo de vida não guiado por um regulamento
preciso mas pela personalidade de Ficino. Anualmente, no dia 7 de Novembro,
suposta data do aniversário de Platão, um selecto grupo de intelectuais se
reunia em Careggi, a convite de Lourenço, para um banquete, claramente alusivo
a "O Banquete" de Platão.
Marsilio
Ficino utilizou pela primeira vez a expressão Amor platonicus, como um sinónimo
de amor socrático.
Como
um homem do Renascimento, Ficino tinha também conhecimentos em outras áreas,
tais como medicina e música, mas revelou-se sobretudo um grande tradutor.
Traduziu para o latim não só a obra de Platão (1477) mas também, por sugestão
de Pico della Mirandola, Plotino (1485) e outros neoplatônicos. Seu trabalho de
tradução terá influência decisiva para a formação do pensamento da Idade de
Ouro da Renascença.
Em
1473 foi ordenado padre. Não obstante, por seu interesse pelas ciências ocultas
é acusado de necromancia em 1482, e escreve uma Apologia em sua própria defesa.
Com
a morte de Lourenço, em 1492, rompe-se o equilíbrio político entre Florença e
os demais estados italianos, obtido graças a sua grande habilidade política.
Segue-se um período sangrento de guerras e invasões. O declínio dos Médicis
influirá negativamente sobre a vida de Ficino. As actividades da Academia são
extintas e seu pensamento será duramente criticado pelo poderoso clérigo
Girolamo Savonarola, contra o qual o Ficino escreverá uma Apologia em 1498.
Desgostoso, o filósofo se retira, vindo a falecer em sua casa de Careggi, em
1499.
Obra
filosófica
A
parte mais substancial da obra filosófica de Marsílio Ficino foi completada
entre 1458 e 1493. Sua Theologia platonica ou De immortalitate animarum,
dedicada a Lourenço de Médicis, é considerada a síntese do seu pensamento
hermético e filosófico. Trata-se de um tratado sistemático sobre a imortalidade
da alma, no qual procura conciliar o platonismo e o cristianismo.
Seu
pensamento propõe uma visão do Homem com forte afinidade cósmica e mágica, no
centro de uma machina mundi animada e altamente espiritualizada, porque imbuída
do spiritus mundi. A função principal do pensamento humano seria a de atingir -
através de uma iluminação racional (ratio), intelectual (mens) e imaginativa
(spiritus e fantasia) - a autocosciência da própria imortalidade e a
divinização do Homem, graças àqueles signa e symbola - signos cósmicos e
astrais comparáveis a hieróglifos universais, originários do mundo celeste.
Existiria,
segundo Ficino, uma antiga e consistente tradição teológica - desde Hermes
Trimegisto até Platão, passando por Zoroastro, Orfeu, Pitágoras e outros - que
se propõe a subtrair a alma do engano dos sentidos e da fantasia, para conduzi-la
à mente que percebe a verdade e a ordem de todas as coisas que existem em Deus
ou que emanam de Deus. Assim estabelecia vínculos dessa antiga tradição com o
Cristianismo, exprimindo o universalismo religioso da Renascença.
Segundo
Ficino, o agir humano em todas as suas manifestações - artísticas, técnicas,
filosóficas ou religiosas - exprime, no fundo, a presença divina de uma mens
infinita na Natureza, dentro de uma visão cíclica da história, marcada pelo
mito do retorno platónico. Sua ideia animadora é a exaltação do homem como
microcosmo, síntese do universo, um conceito antigo, neoplatonico, mas que teve
no Humanismo do Renascimento valor e significado particulares. Outra ideia que
o inspirava é a da continuidade do desenvolvimento religioso, desde os antigos
sábios e filósofos - Zoroastro, Orfeu, Pitágoras, Platão - até o cristianismo,
ideia que expressa o universalismo religioso da Renascença.
A
actividade principal de Marsílio Ficino foi traduzir. Traduziu elegantemente,
para o latim, Platão (1477) e Plotino (1485), além de outros neoplatônicos.
Expôs o seu pensamento em uma grande obra (Theologia platonica de immortalitate
animorum - 1491), em que procura concordar o platonismo, do qual era
entusiasta, com o cristianismo, em que acreditava seriamente. Entretanto não
foi um metafísico, mas um eclético e suas finalidades eram morais.
Frases
"O
Homem é o mais desgraçado dos animais: além da imbecillitas corporis, comum a
todos os viventes, tem também a inquietudo animi, isto é, a certeza de dever
morrer."
"E
assim, portanto, há uma idade que temos que chamar de ouro... e que o nosso
século seja assim, áureo, ninguém duvidará disso se tomar em consideração os
admiráveis engenhos que nele se achou."
Sobre a razão:
"Conhece-te
a ti mesmo, ó linhagem divina vestida com trajes mortais. Despe-te, eu te peço,
separa o quanto podes, e podes o quanto te esforces; separa, digo, a alma do
corpo, a razão dos afectos do sentido. Verás logo, cessadas as brutalidades
terrenas, um puro ouro, e, afastadas as nuvens, verás um luminoso ar; e então,
acredita-me, respeitarás a ti mesmo como um raio eterno do divino sol."
(Lettere, ep. 110, 1-9)
Sobre o amor:
"Quando
dizemos amor, entendam desejo de beleza." (Sopra lo Amore, I iv)
Sobre a alma:
Anima
copula mundi. (A alma racional como termo médio entre o divino e o terreno)
(da
Vikipédia)
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