sábado, 31 de março de 2018

Esclarecimentos sobre Maçonaria



Esclarecimentos sobre Maçonaria
Esclarecimentos sobre Maçonaria (em inglês: Illustrations of Masonry), do Maçom britânico William Preston, foi o primeiro livro a apresentar um estudo organizado dos conhecimentos maçónicos e a fazer um relato - parcialmente lendário e parcialmente histórico - da evolução da Maçonaria na Inglaterra desde "tempos imemoriais" até a data da publicação. O livro também é conhecido por trazer a primeira descrição de diversas cerimónias maçónicas, como na ocasião do funeral de um Mestre Maçom ou da consagração de uma Loja.

Contexto Histórico
Após ser iniciado na Maçonaria, em 1763, e particularmente após ser eleito Mestre de Loja, William Preston realizou um amplo trabalho de pesquisa de documentos antigos, bem como de consulta com Maçons de toda a Inglaterra e do continente europeu. Após alguns anos, todo o conhecimento acumulado foi estruturado na forma das Prelecções de Preston, contendo o que era essencial para os graus de Loja Simbólica. Recebendo incentivo dos membros de sua Loja e Grande Loja, Preston decidiu, às próprias custas, publicar um livro que servisse como marco de conhecimento da Maçonaria inglesa do século XVIII e que também reunisse a história dos Maçons na Inglaterra, particularmente no século XVII e depois da fundação da Grande Loja de Londres.

Conteúdo
Esclarecimentos sobre Maçonaria é dividido em quatro livros, contando ainda com um anexo de hinos, odes e canções maçónicas. Conforme seu Prefácio, no Livro I, "demonstra-se a excelência da Maçonaria". No Livro II, "esclarece-se o plano geral dos assuntos tratados nos três graus da Ordem" e faz-se "uma breve descrição das antigas cerimônias da Ordem". O Livro III traz a cópia e comentários sobre um Antigo Manuscrito da Sociedade. O Livro IV contém a história da Maçonaria na Inglaterra, "desde sua primeira aparição até 1812". O anexo contém a colecção de hinos e canções, que "desempenhados nas assembleias [dos Maçons] podem ajudar bastante a avivar os trabalhos".

Livro I
Intitulado A excelência da Maçonaria demonstrada, esta parte contém 10 prelecções sobre a sociedade maçónica, incluindo discussões sobre: a simetria e a proporção que existem na natureza e como estas levam a mente naturalmente à reflexão sobre o Grande Arquiteto do Universo; as vantagens resultantes do cultivo da amizade; a origem da Maçonaria entre os construtores da Idade Média; a diferença entre Maçonaria operativa e Maçonaria especulativa; e a importância da caridade entre os Maçons.

Livro II
De nome Um esclarecimento sobre as prelecções, este livro está dividido em seis secções. Após a primeira, que traz observações gerais sobre a importância do ensino e da instrução dos Maçons, a segunda secção contém explicações sobre a cerimonia de abertura e de encerramento em Loja, bem como os Antigos Encargos que eram lidos nas Lojas dos séculos anteriores ao XVIII. As terceira, quarta e quinta sessões reúnem comentários sobre as prelecções que Preston criou para instruir os Maçons e que eram propagadas por sua Order of Harodim. Finalmente, a sexta secção descreve "as antigas cerimónias da Ordem": para constituir uma Loja; para consagrar uma Loja; para instalar o Mestre da Loja; para o lançamento de pedras fundamentais em estruturas públicas; para a dedicação de salões maçónicos; e em funerais de Mestres Maçons.

Livro III
Com o título de Os princípios da Maçonaria explicados, traz a cópia do Manuscrito Leland, que teria sido encontrado pelo filósofo John Locke e traria uma sequência de perguntas e respostas apresentadas diante do rei Henrique VIII da Inglaterra. Preston acrescenta uma série de explicações para elucidar as respostas, incluindo a teoria de que Pitágoras teria sido um precursor da sociedade dos maçons.

Livro IV
O quarto livro chama-se A história da Maçonaria na Inglaterra e ocupa 3/5 do texto. Baseado nos manuscritos disponíveis em sua época e nos relatos dos Maçons mais antigos que conheceu ao longo de sua pesquisa na Inglaterra e na Europa, Preston começa com a origem lendária na província romana de Britânia, seguindo a influência dos druidas celtas e dos Templários. A alegada interacção de diversos reis ingleses - desde Etelstano até a rainha Elizabeth I e o rei George I - alcança seu auge com o restabelecimento da Maçonaria no sul da Inglaterra, através da fundação da Grande Loja de Londres e de Westminster. A partir deste ponto, Preston torna-se fonte secundária, a partir dos relatos dos Maçons mais velhos, e primária, desde sua Iniciação em 1763 até a publicação do livro, em 1772. As 12 edições sucessivas trouxeram acréscimos ao Livro IV, de modo que a história se estende até 1812, incluindo ainda as notícias do desenvolvimento da Maçonaria na Escócia, nas colónias britânicas ao redor do mundo e no continente europeu.

Importância dentro da Maçonaria

As prelecções e o livro de Preston influenciaram profundamente Thomas Smith Webb, responsável por determinar os fundamentos do Rito de York com o seu Freemason's Monitor, de 1797. Pouco antes de falecer, Preston concedeu à Grande Loja verba para que anualmente fossem preferidas as "Prelecções Prestonianas", baseadas em suas próprias prelecções da Order of Harodim e do material disponível no Esclarecimentos sobre Maçonaria. Este costume se manteve até 1862, sendo retomado em 1924 com tema maçónico livre e permanecendo popular até hoje.

William Preston



William Preston 
William Preston (Edimburgo, 7 de Agosto de 1742 – Londres, 1 de Abril de 1818) foi um autor, editor e palestrante escocês. Depois de frequentar a escola e a faculdade, tornou-se secretário do linguista Thomas Ruddiman, o qual foi seu guardião após a morte do pai. Com a morte de Thomas, Preston tornou-se impressor sob Walter Ruddiman, irmão de Thomas. Em 1760, mudou-se para Londres e começou uma carreira de destaque com o impressor William Strahan. Nesta época, tornou-se Maçom, instituindo um sistema de prelecções de instrução e publicando Esclarecimentos sobre Maçonaria, que teve várias edições. Foi sob Preston que a Lodge of Antiquity se separou da Grande Loja dos Modernos, assumindo o título de "A Grande Loja de Toda a Inglaterra ao Sul do Rio Trent" por dez anos. Depois de uma longa doença, faleceu em 1818 e foi sepultado na Catedral de São Paulo.

Início da vida
Preston nasceu em Edimburgo, em 7 de Agosto de 1742. Seu pai, também chamado William Preston, foi um "Writer to the Signet", uma forma de procurador. Segundo filho e único sobrevivente, Preston foi encorajado aos estudos clássicos, entrando para o Royal High School aos seis anos, onde se destacou em latim e também estudou grego. Ele continuou seus estudos clássicos na faculdade, antes de se tornar secretário de Thomas Ruddiman, um erudito clássico, cuja cegueira agora dependia de ajuda. Enquanto isso, a saúde e as finanças do pai de Preston declinavam, devido a maus investimentos e o apoio ao lado errado na rebelião de 1745. Com a sua morte, em 1751, Ruddiman tornou-se guardião do jovem William. Ele foi aprendiz do impressor Walter Ruddiman, irmão de Thomas, mas até a morte de Thomas, em 1757, passava a maior parte de seu tempo a ler para ele e a transcrever e editar o trabalho dele.

Em 1760, provido com cartas de introdução de Ruddiman, Preston chegou em Londres, onde conseguiu emprego com William Strahan, que mais tarde tornou-se Impressor do Rei, ex-aluno da mesma escola de Preston. Foi aí que seguiu sua vida profissional como editor, obtendo o respeito de escritores como David Hume e Edward Gibbon.

Francomaçonaria
Pouco depois da chegada de Preston em Londres, um grupo de Maçons de Edimburgo vivendo na capital inglesa decidiu constituir uma Loja. A Grande Loja da Escócia considerou que não poderia conceder-lhes uma constituição, pois reconheciam a jurisdição da Grande Loja dos Antigos na capital. Assim, foram constituídos por esta Grande Loja, recebendo o nº 111, na "Corça Branca", no Strand, em 20 de Abril de 1763. É possível que tenha sido nesta reunião que Preston tornou-se o segundo Iniciado da Loja. Infelizes com o status da Grande Loja relativamente nova de que se viram parte, Preston e alguns outros começaram a frequentar a Loja associada à Grande Loja da Inglaterra original, e persuadiram seus irmãos a mudarem de obediência. Assim, em 15 de Novembro de 1764, a Loja nº 111 dos Antigos tornou-se a Loja Caledonian, nº 325. Essa Loja posteriormente reuniu-se no Great Eastern Hotel, na Liverpool Street, em Londres. A mudança de obediência proporcionou uma correspondência mordaz entre a Loja Caledonian e sua ex-Grande Loja. A Loja Caledonian tornou-se, então, a principal componente do primeiro Grande Capítulo do Arco Real Sagrado.

Preston logo começou um extenso programa de pesquisa maçónico. Entrevistando quem pode e entrando em extensa correspondência com Maçons na Grã-Bretanha e no exterior, construiu um vasto acervo de conhecimento maçónico, que aplicou inicialmente para explicar e organizar as prelecções associadas aos três graus da Francomaçonaria. Ele se reunia com amigos uma ou duas vezes por semana para testar e refinar sua apresentação e, em 21 de Maio de 1772, organizou uma festa de gala na Coroa e Âncora no Strand, a próprio custo considerável, para apresentar aos Grandes Oficiais e outros maçons proeminentes o seu sistema. O sucesso de seu discurso naquele dia levou à publicação, ainda naquele ano, de seu Esclarecimentos sobre Maçonaria, que teve doze edições inglesas durante a vida do autor, sendo ainda traduzido em outras linguagens. Em 1774, Preston organizou seu material em cursos de prelecções, que ele ministrava na Taverna da Mitra, em Fleet Street. Havia doze prelecções por grau, ao custo de um guinéu por grau.

Presentes na festa de gala estavam dois membros da Lodge of Antiquity (que outrora, como Ganso e Grelha, fora fundadora da Grande Loja). John Bottomley era então o Mestre, e John Noorthouck, colega de Preston na firma de impressão de Strahan. A Antiquity estava sofrendo um declínio no número de membros e estes dois homens conceberam a ideia de reviver sua Loja recrutando Preston. Assim, ele foi eleito membro, in absentia, em 1 de Junho de 1774. Em seu primeiro comparecimento como membro, duas semanas mais tarde, Preston foi eleito Mestre da Loja, que assim floresceu, o que, de alguma forma, desagradou Noorthouck. Ele reclamou que os jovens maçons que agora migravam para a Loja eram todos "criaturas de Preston" e que lhe permitiram permanecer na cadeira de presidência por três anos e meio.

Durante este período, começando em 1769, Preston tornou-se o Grande Secretário Assistente e "Impressor da Sociedade", funções que lhe deram acesso a material que, posteriormente, utilizou em Esclarecimentos sobre Maçonaria. Elas também lhe deram a oportunidade de tentar criar uma ruptura entre a Grande Loja dos Antigos e a Grande Loja da Escócia, questionando a base sobre a qual a Grande Loja mais recente havia sido formada. Essa tentativa não teve sucesso e somente serviu para ampliar a divisão entre as duas Grandes Lojas. Em 1773, Preston passou a servir na recém-criada Comissão do Salão da Grande Loja, nomeada em 1773 para supervisionar a construção do Salão Maçónico.

Cisma da Grande Loja
Em 27 de Dezembro de 1777, alguns membros da Lodge of Antiquity, incluindo Preston, retornaram da Igreja de São Dunstan portando suas insígnias maçónicas, tratando-se meramente de atravessar a rua. Alguns membros originais da Antiquity que não estavam presentes (e que incluíam os dois homens que persuadiram Preston a se juntar à Antiquity) decidiram relatar o incidente à Grande Loja como se fora uma procissão maçónica proibida. Ao invés de tratar como um incidente menor, Preston escolheu defender as suas acções e as de seus irmãos enfatizando a senioridade de sua Loja, que, enquanto Ganso e Grelha, fora uma das fundadoras da Grande Loja. Preston argumentava que sua Loja apenas respondia às constituições originais e regulamentos posteriores não se aplicavam a ela. Depois do devido processo, Preston e seus apoiadores foram expulsos em 1779, o que dividiu a Antiquity. Os membros mais antigos permaneceram com a Grande Loja. O restante da Loja se aliou com a Grande Loja de Toda a Inglaterra, em York, tornando-se, durante a separação, "a Grande Loja de Toda a Inglaterra ao Sul do Rio Trent", constituindo pelo menos duas Lojas sob este título. Em Maio de 1789, a disputa foi resolvida e Preston, após um pedido de desculpas, recebeu de volta suas honras maçónicas, a Lodge of Antiquity se reunindo em 1790.

Legado
A expulsão de Preston marcou uma grande redução em sua contribuição à Francomaçonaria. Após se ausentar da Loja por um ano, renunciou em 1781. Seus irmãos o persuadiram a retornar cinco anos mais tarde, o que interrompeu outro período de declínio. Apesar de Preston ter afirmado que a Lodge of Antiquity constituíra várias Lojas em seu período de exílio, apenas duas foram confirmadas. Na época de sua readmissão na Grande Loja, Preston fundou a Ordem de Harodim, que servia de veículo para suas ideias particulares sobre Maçonaria, conforme apresentadas em suas prelecções. Esse grupo se dissolveu por volta de 1800. Preston não participou e não se pronunciou publicamente sobre o longo processo de unificação das duas Grandes Lojas. Seu maior legado maçónico é considerado seus Esclarecimentos sobre Maçonaria, que continuaram a receber novas edições após sua morte, de longa doença, em 1818. Sua obra era particularmente influente - os Esclarecimentos seriam, junto com o Livro das Constituições de James Anderson, um dos livros que toda Loja Maçónica da Inglaterra possuía em sua biblioteca.


Embora considerado um estudioso maçónico, poucos maçons modernos leram sua obra. Conquanto sua história da Maçonaria na Inglaterra seja infundada como aquela escrita por James Anderson, tendo como ponto de partida o reinado de Athelstan, suas prelecções e explicações devem ser vistas como obra da época, relacionando a Francomaçonaria do final do século XVIII ao povo de seu tempo. O legado mais duradouro de Preston foi afastar a percepção da Francomaçonaria da mesa de jantar e dos bares, dando-lhe um apelo mais cerebral. Preston também é considerado, junto ao Grande Secretário James Heseltine e a Thomas Dunckerley, um dos responsável pela transferência das reuniões maçónicas de tavernas para edifícios maçónicos.
(da wikipedia)

LAURENCE DERMOTT



LAURENCE DERMOTT
Kennyo Ismail
Lendário Grande Secretário da Grande Loja dos Antigos da Inglaterra de 1752 a 1771, Dermott nasceu na Irlanda, em 1720, e morreu em Londres, em 1791. Ele se iniciou na Maçonaria em 1740 e se tornou Mestre Instalado em 1746, em Dublin. Em 1748, morando em Londres, Dermott filiou-se numa Loja jurisdicionada àquela que em pouco tempo ele iria apelidar de “Grande Loja dos Modernos”. Ele se uniu a vários outros maçons ingleses e principalmente irlandeses vivendo na Inglaterra que, descontentes com as mudanças e modernizações que estavam ocorrendo no âmbito da Grande Loja da Inglaterra, resolveram criar uma nova Grande Loja que pudesse preservar os antigos costumes e tradições maçónicas. Em 1751 nascia a Grande Loja dos Antigos, tendo Dermott como seu Grande Secretário.

Laurence Dermott foi Grande Secretário por quase 20 anos, deixando o cargo em 1771 para assumir como Grão-Mestre Adjunto. Permaneceu no cargo até 1777, quando William Dickey assumiu, mas retornou à posição de Grão-Mestre Adjunto em 1783, até 1787. Ele serviu a Grande Loja dos Antigos até 1789, enquanto sua saúde permitiu.

Uma vida dedicada à Maçonaria dos Antigos e a severas críticas aos Modernos, sua obra, Ahiman Rezon, o Livro de Constituições da Grande Loja dos Antigos, foi rapidamente copiada pela Grande Loja da Irlanda que, até então, se baseava na Constituição de Anderson. Dermott era conhecido por ser extremamente rígido, disciplinado, um administrador habilidoso, e um escritor sarcástico quando se tratava dos Modernos.

Um interessante aspecto a se observar sobre Dermott é quanto ao respeitado William Preston. Preston se tornou maçom pelos Antigos, sob a tutela de Dermott, optando depois pelos Modernos, mais precisamente pela Lodge of Antiquity, para qual foi convidado a ser Venerável Mestre, e que era filiada aos Modernos. Dermott, mesmo sendo tão activo em seus ataques contra os Modernos, nunca atacou Preston. Alguns anos depois, Preston foi expulso da Grande Loja dos Modernos, e por 10 anos fez coro com os Antigos contra os Modernos. Seu respeito entre os maçons era tamanho e seu discurso tão bem formulado que a Grande Loja dos Modernos acabou cedendo às pressões e “desexpulsando” Preston, acompanhado de um pedido de desculpas.


Os fatos levam a crer que havia um grande respeito entre Preston e Dermott que, apesar de militarem em lados opostos administrativamente e de criticarem veementemente seus opositores, nunca se atacaram. E ambos acabaram formando, sem saberem, a base sobre a qual foi construída a Maçonaria Norte-Americana.

Grande Loja Unida da Inglaterra



Grande Loja Unida da Inglaterra

Irmão Hercule Spoladore
Loja de Pesquisas Maçônicas “Brasil”


                                                 

               Uma vez fundada a Grande Loja de Londres em 24 de Junho de 1717, como já se sabe da história da Ordem, que ocorreu na Cervejaria do Ganso e da Grelha (The Goose and Gridiron), onde se reuniram, além de uma Loja com o mesmo nome, mais três, a saber: A Coroa (The Crown); A Macieira (The Apple); O Copázio (copo grande, copaço); e As Uvas (The Rummer and Grappes)
          Elegeram como primeiro Grão-Mestre, o Irmão Sir. Antony Sayer.     As três primeiras Lojas foram constituídas de Maçons operativos e a quarta, a do Copázio e das Uvas, foi constituída por homens eminentes, nobres e, entre eles, o Reverendo James Anderson, que escreveria, em 1723, o famoso Livro das Constituições (Livre des Constituitones), mais conhecido como Constituições de Anderson.
          Era, nessa época, uma Maçonaria de apenas dois Graus. Não havia o Grau de Mestre, havia o cargo de Mestre da Loja. O Grau de Mestre foi introduzido na Maçonaria em 1725 e definitivamente incorporado em 1738. Em 11 de Maio de 1725 teriam sido elevados ao Grau de Mestre os dois primeiros Maçons, na história da Ordem: Papillon Bul e Charles Cotton. Interessante que, os primeiros Grão-Mestres da Maçonaria no mundo eram Companheiros e não Mestres.
              Entretanto, apesar desta iniciativa da Maçonaria Inglesa, fundando a que seria a primeira potência maçónica, a Grande Loja de Londres, a sua influência na Inglaterra, durante muito tempo, foi relativa, pois uma grande parte das Lojas inglesas, em respeito aos antigos costumes, onde os “Maçons livres em Lojas livres” predominavam, não queriam saber de novidades, principalmente, em função do já conhecido conservadorismo inglês. O principal foco de resistência foi a velha Loja do condado de York.
            Os Maçons de muitas Lojas teimavam em não seguir não só a uma organização obediencial, bem como eram refractários às inúmeras alterações que foram introduzidas, sendo por esta razão chamados de Antigos e, evidentemente, os Maçons da Grande Loja de Londres eram chamados de Modernos.
          Em 1725, na cidade de York, foi fundada a Grande Loja, se autoproclamando Grande Loja da Inglaterra. Cessou suas atividades mais ou menos em 1740.
         Em 1751 foi fundada uma Grande Loja dos Antigos, formada de Maçons irlandeses que haviam sido impedidos de pertencer às Lojas inglesas. O Maçom que mais se bateu contra os Modernos foi o irlandês Lawrence Dermott, publicando, em 1756, as Constituições da Grande Loja dos Antigos, sob o título Ahiman Rezzon (Ahim, quer dizer Irmãos; manah, escolher e ratzon, lei) Ele afirmava que os Antigos deveriam ser chamados de Maçons de York, porque a primeira Grande Loja da Inglaterra havia sido reunida em York, em 926, pelo príncipe Edwin. Entretanto, sabemos que isso se trata de uma lenda e não da realidade maçónica inglesa dos séculos XVII e início do XVIII.
               Somente em 1761, foi reativada a Grande Loja de York, ligada à cidade do mesmo nome, com a seguinte sigla: Grande Loja de toda a Inglaterra (The Grand Lodge off all England). Os Maçons desta Grande Loja criticavam a Grande Loja de Londres por ter esta realizadas muitas alterações, a saber: mudaram as formas de reconhecimento nos Graus na Maçonaria; retiraram as orações dos procedimentos; descristianizaram o Ritual; omitiram os Dias Santos; mudaram a forma de preparação do candidato; enxugaram o Ritual, deixando de dar as instruções como até então eram ministradas; cortaram a leitura dos Antigos Deveres nas Iniciações; retiraram a Espada durante as Iniciações; mudaram o antigo método de arrumar a Loja; e, também, alterações e mudança na função dos Diáconos; colocaram o Altar dos Juramentos no centro da Loja; alem de outras alterações.
              Uma outra Grande Loja, a quarta, apareceu na Inglaterra, em 1777, por ocasião da cisão havida na Loja “Antiquity”, quando parte da Loja acompanhou o grande Maçom Willian Preston, separando-se da Grande Loja de Londres, porém, voltando daí há onze anos, em 1788, à Potência de origem. Willian Preston, grande palestrante e compilador dos então catecismos maçónicos. Ele teria sido o primeiro Maçom a dar o significado simbólico às ferramentas de trabalho dos operários da construção.
         De facto, a Grande Loja de Londres imprimiu um tipo de catecismo (não se chamava Ritual naquela época), introduzindo uns procedimentos e retirando outros, mais no sentido de actualização e renovação. Criaram um Ritual muito parecido com o actual Rito de York Americano.
      Quanto aos Maçons do condado de York e aos outros que se opunham às modificações implantadas pela Grande Loja de Londres praticavam um Ritual parecido ao que Samuel Prichard, de maneira perjura, publicou num jornal de Londres, em 10 de Janeiro de 1730, de dois Graus. Eram conservadores e não admitiam modificações em hipótese alguma.
        Entretanto, a Maçonaria Inglesa chegou à conclusão que tanta divergência não levaria a Ordem a lugar algum; já, em 1794, os dois Grão-Mestres rivais solicitaram ao Duque de Kent que intermediasse um acordo entre as duas Potências, no sentido de uma unificação. Em 1809, a Grande Loja de Londres constituiu uma Loja de Promulgação ou Reconciliação, com a finalidade de estudar a fundo o problema. Esta Loja chegou à conclusão, após estudos, que se poderia atender a todos os interessados, principalmente no tocante ao Ritual, isto é cederiam em favor dos Antigos, em parte, suas maiores reivindicações.

          Em 1813, por coincidência, dois nobres, irmãos de sangue eram os Grão-Mestres das duas Potências adversárias, o Duque de Sussex, da Grande Loja de Londres e o Duque de Kent, Grão-Mestre da Grande Loja de toda a Inglaterra. Assim, em 27 de Novembro daquele ano, foi assinado um tratado com 31 artigos, sacramentando a união de ambas as Obediências. Não foi lavrada ata, para se salvaguardar o segredo maçónico, e o Duque de Kent propôs que seu irmão o Duque de Sussex fosse o primeiro Grão-Mestre da nova Potência, que passou a se chamar Grande Loja Unida da Inglaterra, nome este que permanece até a presente data. A partir daí, a Maçonaria Inglesa entrou numa fase de paz e tranquilidade. Acresça-se que, apesar de terem chegado a um acordo, acabou prevalecendo em quase 80% das práticas adoptadas pelos Antigos. Há na Inglaterra uma certa tolerância, pois existem algumas pequenas diferenças nas práticas ritualistas perfeitamente aceites, sem que isto venha a ser enxertos, invenções ou adendos, consistindo apenas em tradições, sem constituir problemas entre os Maçons ingleses, cuja mentalidade é bastante diferente da nossa, já que temos uma capacidade de inventar muito grande.

Elias Ashmole



Quem foi esse “antiquário” chamado Elias Ashmole?
TRADUÇÃO JOSÉ FILARDO

Por Guy Chassagnard

Em sua condição era antiquário, astrólogo, alquimista e até mesmo médico, Elias Ashmole é muitas vezes considerado como tendo sido o primeiro maçom aceito conhecido; aceito porque tendo sido iniciado mesmo não sendo, por ofício, um construtor. Puro engano. O que não impede, de modo algum, de continuar a ser um caso interessante para o maçom de hoje.

Elias Ashmole poderia ter sido apenas um seleiro como seu pai ou um negociante de tecidos como seu avô materno. Elias Ashmole podia ser apenas um advogado, como ele foi por alguns anos em Londres. Elias Ashmole poderia ter sido apenas um cobrador de impostos em Oxford, ou um oficial da artilharia de Sua Magestade Carlos I, antes de sua decapitação em 1649. Elias Ashmole teria sido apenas um astrólogo, um alquimista, um escritor, um antiquário ávido por diferentes colecções.

Finalmente, Elias Ashmole poderia ter sido apenas um dos primeiros membros da Royal Society of London (1661). Porque ele foi tudo isso, e muito mais, durante sua curta vida, começada em Staffordshire em 1617 e terminada em 1692, em Londres.

Mas, Elias Ashmole continua a ser para nós, acima de tudo, um maçom livre e aceito que um dia do ano 1646, escrevia da seguinte maneira em seu diário:
• 16 de outubro de 4:30 da tarde – Fui feito Franco Maçom [Free Mason] em Warrington, Lancashire, com o coronel Henry Mainwaring de Karnicham em Cheshire.

Os nomes daqueles que se encontravam, então, na Loja [eram]: Sr Rich[ard]. Penket, Vigilante; Sr. James Collier, Sr. Rich [ard] Sankey, Henry Littler, John Ellam, Rich. Ellam e Hugh Brewer.

Trinta e cinco anos mais tarde, Elias Ashmole ainda escreveria sem mais comentários:

• 10 de março às 5:00 da tarde. Recebi uma intimação para apresentar-me a uma loja, a ser realizada no dia seguinte no Freemasons’ Hall, em Londres.

• 11 [de março] – Assim, fui até lá ao meio-dia e foram admitidos na Fraternidade  de Maçons Livres: Sir William Wilson, Cavaleiro, Capitão Rich[ard] Borthwick, Sr. Will [iam] Woodman, Sr. Wil [Liam] Grey, Sr. Samuel Taylor & Sr William Wise. etc.

Eu era o decano dos Companheiros presentes (tendo sido admitido 35 anos antes). Estavam presentes, além de mim, os Companheiros listados abaixo:

Sr. Tho [mas] Wise, Mestre da Companhia dos Maçons, este ano, o Sr. Thomas Shorthose, o Sr. Thomas Shadbolt, X. Waindsford, esq., Sr. Rich[ard] Young, Sr. John Shorthose, Sr. William Hamon, Sr. John Thompson, & Sr, Will [am] Stanton. Fomos todos para o jantar na Taverna Half Moon em Cheapside, reunidos em um banquete solene oferecido pelos novoS maçons aceitos.

Nós não saberemos mais sobre as actividades Maçónicas de Elias Ashmole. Ele participou de outras sessões de Loja? Presumivelmente, mas seu diário é omisso nesse ponto.

Robert Freke Gould, que estudou minuciosamente a vida de Elias Ashmole – para ele um “zeloso Rosacruz” – afirmou em um de seus livros que ele não tinha sido o primeiro maçom aceito na Inglaterra, e as lojas de Warrington e de Londres, a que ele fez menção eram, obviamente, lojas especulativas.

Em nível secular, a vida de Elias Ashmole foi mais rica em eventos. Casou-se três vezes, incluindo duas mulheres muito mais velhas do que ele, sem nunca ter filhos. Veio a ser favorecido por Charles I e Charles II, filho do anterior, para ser colector de impostos ou auditor fiscal, secretário e Escrivão de tribunal do Suriname, arauto de Windsor, enfim arauto de Armas da Jarreteira. Conheceu a fama e a fortuna graças às suas pesquisas heráldicas e a publicação de sua obra magistral: A instituição, as leis e cerimonias da Nobilíssima Ordem da Jarreteira (1672); suas outras obras sobre alquimia e sobre as regras de saúde e remédios terapêuticos.

Alguns anos antes de sua morte, Elias Ashmole decidiu transferir suas colecções de antiguidades e livros para a Universidade de Oxford, que fez o Museu Ashmolean, o primeiro museu público da Europa.


A ironia da vida e da morte do nosso maçom aceito: sua viúva casou-se novamente com um … pedreiro.

John Locke



John Locke
John Locke (Wrington, 29 de Agosto de 1632 — Harlow, 28 de Outubro de 1704) foi um filósofo inglês conhecido como o "pai do liberalismo", sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social.

Locke ficou conhecido como o fundador do empirismo, além de defender a liberdade e a tolerância religiosa. Como filósofo, pregou a teoria da tábua rasa, segundo a qual a mente humana era como uma folha em branco, que se preenchia apenas com a experiência. Essa teoria é uma crítica à doutrina das ideias inatas de Platão, segundo a qual princípios e noções são inerentes ao conhecimento humano e existem independentemente da experiência.

Locke escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza do conhecimento.

Um dos objectivos de Locke é a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social e outras bases. Opondo-se a Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres e iguais.

Biografia
Locke estudou medicina, ciências naturais e filosofia em Oxford, principalmente as obras de Bacon e Descartes. Em 1683, refugiou-se nos Países Baixos ao ser acusado de traição junto ao seu mentor politico o lorde Shaftesbury que era líder da oposição ao rei Carlos II no parlamento. Voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao trono, em 1688. Em 1689-1690 publicou as suas primeiras obras: cartas sobre a tolerância, ensaio sobre o entendimento humano, e os dois tratados sobre o governo civil. Faleceu em 28 de Outubro de 1704, com 72 anos.

Locke nunca se casou ou teve filhos. Encontra-se sepultado em All Saints Churchyard, High Laver, Essex na Inglaterra.

Filosofia política
A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de governo consentido, pelos governados, da autoridade constituída e o respeito ao direito natural do ser humano - à vida, à liberdade e à propriedade. Influencia, portanto, as modernas revoluções liberais: Revolução Inglesa, Revolução Americana e a fase inicial da Revolução Francesa, oferecendo-lhes uma justificação da revolução e da forma do novo governo. Locke costuma ser incluído entre os empiristas britânicos, ao lado de David Hume e George Berkeley, principalmente por sua obra relativa a questões epistemológicas. Em ciência política, costuma ser classificado na escola do direito natural ou jusnaturalismo.

Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais - direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. A falha do Estado de Natureza levam à tal invasão da propriedade e, devido a tal, cria-se um contrato social para que haja transição do Estado de Natureza à Sociedade Política. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões. Locke ainda diz que se o governo viola ou deixa de garantir o direito dos indivíduos à propriedade o povo tem o direito a resistência ao governo tirano. O que define a tirania é o exercício do poder para além do direito, visando o interesse e não o bem público ou comum.

Outra constante na obra de Locke é do papel dos poderes na organização do Estado, sendo o legislativo o poder supremo, sobrepondo-se ao executivo e federativo. Assim, há no Estado um poder limitado, pois quando esses órgãos criados pelo consentimento do povo falha no atendimento dos fins a que foram concebidos perdem a razão de ser, dando aos cidadãos o direito de revolução. Locke apresenta ainda o trabalho como o fundamento originário da propriedade, tendo o seu valor corrompido com a introdução do ouro e do comércio, gerando a distribuição desproporcional das riquezas entre os homens.

o homem vive livre e em paz no seu estado de natureza
O contrato social, embora não se trate de um contrato físico histórico, como acontece com qualquer contrato, consistiria na transferência de poder dos indivíduos carecidos de protecção para um conjunto de instituições artificiais e avantajada de meios para punir os que violam a obediência a essas mesmas instituições. De forma generalizada, o contrato social é a relação entre o povo e seu governante.

Há alguns pontos de contacto entre o pensamento lockiano e hobbesiano. Primeiro na condição natural em que o homem vivia inicialmente e na sua passagem para organização social através do contrato social. Porém, distingue-se por caracterizar esse estado natural do homem como pacífico, sendo o homem nele plenamente livre. Enquanto Hobbes coloca o medo da morte violenta como fonte da organização dos homens, Locke impõe a defesa da propriedade como principal fonte de formação do Estado. Esta propriedade já existia anteriormente à formação do Estado.

Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro Tratado sobre o Governo Civil, critica a tradição que afirmava o direito divino dos reis, declarando que a vida política é uma invenção humana, completamente independente das questões divinas. No Segundo Tratado sobre o Governo Civil, expõe sua teoria do Estado liberal e a propriedade privada, onde ele caracteriza a propriedade privada como tudo a que você atribui um valor e tenha conquistado por direito. É algo legítimo e todo indivíduo tem direito a tais conquistas, e assim como Locke sugeriu, o Estado teria uma função primordial de proteger esses direitos.

Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, contrastando com a história trágica da brutal repressão aos protestantes na França no século XVI e a própria intolerância e zelo religioso radical de Calvino em Genebra, o nome de John Locke está intimamente associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses aprenderam a valorizar apenas na década de 1680, quase às portas do Iluminismo. Como Voltaire afirmou, a tolerância é, para os franceses, um artigo de importação. Bernard Cottret afirma: A tolerância é o produto de um espaço geográfico específico, nomeadamente o noroeste da Europa. Ou seja: a Inglaterra e os Países Baixos. E ela é, no final, em especial, a obra de um homem - John Locke - a quem o século XVII dedica um culto permanente.

Dentre os escritos políticos, a obra mais influente de Locke foi Dois Tratados sobre o Governo (1689). O Primeiro Tratado é um ataque ao patriarcalismo, e o segundo introduz uma teoria da sociedade política ou sociedade civil baseada nos direitos naturais e no contrato social. Segundo Locke, todos são iguais, e a cada um deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este fundamento, deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada, ao declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele, ao acrescentar seu trabalho aos recursos naturais. Este tratado também introduziu a chamada "cláusula lockeana", que resume a teoria da propriedade-trabalho de John Locke: os indivíduos têm direito de se apropriar da terra em que trabalham desde que isso não cause prejuízo aos demais. O direito de se apropriar privadamente de parte da terra comum a todos seria pois limitado pela consideração de que ainda houvesse bastante [terra] igualmente boa e mais do que aqueles ainda não providos pudessem usar. Em outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente apropriar-se dos recursos naturais mas também tem que considerar o bem comum.

No âmbito das Relações Internacionais, Locke aponta que estas fazem parte do estado de natureza, mas isso não quer dizer que há uma falta de legalidade (deveres e direitos) entre as comunidades políticas no cenário internacional. Sendo assim, o poder de fazer guerra não é sem restrições, obedecendo às directrizes da política interna, que trata dos interesses locais dos cidadãos, quanto à Lei Natural, caracterizada pela garantia da preservação da comunidade civil e da humanidade.

Epistemologia
Locke é considerado o protagonista do empirismo, o qual afirma que todo conhecimento e aprendizagem decorre da experiência. Ele apresenta uma crítica às ideias inatas através da teoria da tábula rasa... Com essa teoria Locke afirma que o ser humano nasce uma “folha em branco”, e é moldado pelas experiências, tentativas e erros.

Então de acordo com Locke o Empirismo busca compreender as coisas de uma forma metodológica, sistemática e crítica. Esse pensamento apresentado por Locke se assemelha ao do pensador Nicolau Maquiavel quando o mesmo se refere a Verità effetuale (Verdade Efetiva das Coisas), que se trata de analisar as coisas como elas realmente são.

No Ensaio acerca do Entendimento Humano (An Essay concerning Human Understanding), de 1690, Locke defende que a experiência é a fonte do conhecimento, que depois se desenvolve por esforço da razão. Outra obra filosófica notável é Pensamentos sobre a Educação, publicado em 1693. As fontes principais do pensamento de Locke são: o nominalismo escolástico, cujo centro era Oxford; o empirismo inglês da época; o racionalismo defendido por René Descartes e a filosofia de Malebranche.

A tolerância
Como filósofo político, Locke pode ser considerado um precursor da democracia liberal, dada a importância que atribui à liberdade e à tolerância. O que estava em jogo era, obviamente, a tolerância religiosa, contra os abusos do absolutismo. De todo modo, suas ideias fundamentaram as concepções de democracia moderna e de direitos humanos tal como hoje é expressa nas cartas de direitos.

Locke, escrevendo a Carta sobre a Tolerância (1689–1692), devido a repercussão das guerras religiosas na Europa, formulou um raciocínio clássico para a tolerância religiosa. Os três principais argumentos eram:
·         Os juízes da terra, o estado em particular e os seres humanos em geral, não podem avaliar de forma confiável as afirmações de verdade de pontos de vista religiosos divergentes;
·         Mesmo que pudessem, aplicar uma única "verdadeira religião" não teria o efeito desejado, porque a crença não pode ser compelida pela violência;
·         A coerção da uniformidade religiosa levaria a mais distúrbios sociais do que permitir a diversidade.

No que diz respeito à sua posição sobre a tolerância religiosa, Locke foi influenciado por teólogos baptistas como John Smyth e Thomas Helwys, que havia publicado obras exigindo a liberdade de consciência no início do século XVII.
 O teólogo baptista Roger Williams fundou sua colónia em Rhode Island em 1636, a qual combinou uma constituição democrática com liberdade religiosa ilimitada. Sua obra The Bloody Tenent of Persecution for Cause of Conscience (1644), que foi amplamente lida em seu país natal, foi um apelo apaixonado pela liberdade religiosa absoluta e a separação total da igreja e do Estado. A liberdade de consciência teve alta prioridade na agenda teológica, filosófica e política., desde que Martin Luther recusou-se a renegar suas crenças ante a Dieta do Sacro Império Romano em Worms em 1521, a menos que ele seja provado falso pela Bíblia.

Entretanto, para John Locke, essa liberdade não seria aplicável ao "homem primitivo", pois que os povos ditos primitivos não estariam associados ao restante da humanidade no uso do dinheiro e poderiam ser equiparados a bestas de caça ou bestas selvagens, (o que forneceu a base ideológica para a tomada das terras e o extermínio de populações indígenas) nem aos papistas (católicos, na expressão dos protestantes), que seriam como "serpentes, dos quais nunca se conseguiria que abrissem mão de seu veneno com um tratamento gentil".

Ressalte-se que tal atitude em relação aos indígenas não era verificada em pensadores anteriores, como Bartolomé de las Casas e Montaigne, que, ao se referir às populações extra-europeias, dizia "Acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram. A não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume". São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 307.

A tolerância não se aplicava tampouco as camadas que detinham menos recursos económicos, para às quais Locke defendia algumas medidas severas, tais como:
·         Direcionar para o trabalho as crianças a partir de três anos, das famílias que não têm condições para alimentá-las.
·         Supressão das vendas de bebidas não estritamente indispensáveis e das tabernas não necessárias.
·         Obrigar os mendigos a carregar um distintivo obrigatório, para vigiá-los, por meio de um corpo de espantadores de mendigos, e impedir que possam exercer sua actividade fora das áreas e horários permitidos.
·         Os que forem surpreendidos a pedir esmolas fora de sua própria paróquia e perto de um porto de mar devem ser embarcados coercitivamente na marinha militar, outros pedintes abusivos devem ser internados em uma casa de trabalhos forçados, na qual o director não terá outra remuneração além da renda decorrente do trabalho dos internados.
·         Os que falsificarem um salvo-conduto para fugir de uma casa de trabalho, devem ser punidos com um corte de orelhas e, na hipótese de reincidência, com a deportação para as plantações, na condição de criminosos.

A questão da escravidão
Locke é considerado pelos seus críticos como sendo "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua".

Locke sustentava a escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencedor na guerra, no chamado "estado de guerra", no qual alguém que poderia ser morto, assume o ónus de servir em troca de viver. No, Segundo Tratado sobre Governo Civil, Locke diz: "Ele [o homem] não pode separar-se dela [da liberdade], excepto por aquilo que o faça perder, ao mesmo tempo, sua preservação e sua vida, pois um homem, não tendo poder sobre sua própria vida, não pode, por um tratado ou por seu próprio consentimento, escravizar-se a quem quer que seja, nem sujeitar-se ao domínio arbitrário e absoluto exercido por outra pessoa, ou mesmo dar cabo de sua vida quando tiver vontade. Ninguém pode outorgar mais poder do que a própria pessoa possui; e aquele que não pode dar fim à própria vida, não pode outorgar tal poder a qualquer outra pessoa. Em verdade, se o homem dá fim à própria vida, por algum acto que clame por morte, aquele por quem ele perde a vida (no caso da pessoa tê-lo em seu poder) pode demorar a tirá-la e usá-la em serviço próprio, não o prejudicando por isso; pois, no momento em que considerar que a provação de ser escravo excede o valor de sua vida, ao resistir à vontade de seu amo, irá sentir-se atraído a ocasionar a si mesmo a morte que deseja."
Nessa citação, Locke argumenta que: somente os escravos tomados de uma certa maneira, por certas pessoas podem ser considerados justamente escravos.

Locke contribuiu para a configuração da Constituição da Província da Carolina, em que uma de suas normas constitucionais dizia: "(...) todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os escravos negros seja qual for a opinião e religião." Seus críticos ainda afirmam que ele investiu no tráfico de escravos negros, enquanto acionista da Royal African Company.[30]

Identidade pessoal
Locke acrescentou no capítulo XXVII do Livro II, "Da identidade e diversidade", a sua visão de identidade e identidade pessoal para a segunda edição do Ensaio. A sua consideração de identidade pessoal acabou sendo revolucionária. Seu relato sobre a identidade pessoal está integrada a uma explicação geral de identidade.

Nesta explicação geral de identidade Locke faz uma distinção entre a identidade do átomo, de conjunto de átomos e das coisas vivas. Cada átomo individual é o mesmo no tempo, e permanece mesmo enquanto o tempo passa. Assim, não há nenhum problema sobre a identidade dos átomos. Massas de átomos são individuadas por seus átomos constituintes independentemente da forma como eles são organizados. As coisas vivas, em contraste, são individuadas por sua organização funcional. Esta organização é instanciada a qualquer momento por um conjunto de átomos. Mas a organização pode persistir através de mudanças nas partículas que a compõem - pelo menos uma mudança gradual, que continua com as funções que a organização desempenha. Claramente a mais importante dessas funções é a continuação da mesma vida. É a continuação da mesma organização funcional e, portanto, a mesma vida que é o critério de igualdade para a identidade de ser vivo, seja ele um carvalho ou um cavalo.

Se soubéssemos que a alma de um homem estava em um dos nossos porcos, seria necessário que chamemos o porco um homem?
Locke afirma que o homem é um animal e, portanto, individualizado como outros seres vivos. Então, homem se refere a um corpo vivo de uma forma particular. [nota 1] Ele defende a sua própria definição, que envolve a distinção entre "homem" e "pessoa", usando uma variedade de experiências de pensamento e deduzir consequências inaceitáveis ​​a partir de definições concorrentes. Ele aponta, por exemplo, que enquanto aqueles que individualizam o homem exclusivamente em termos de "posse de uma alma" podem explicar a igualdade do homem, da infância à velhice, se aceitarem uma doutrina da reencarnação, a sua definição requer que a mesma alma em diferentes organismos seja o mesmo homem, tanto quando o homem-criança e homem-velho. Se a doutrina da reencarnação permite que a alma de um homem para renascer no corpo de um animal [nota 2], como um porco, se soubéssemos que a alma de um homem estava em um dos nossos porcos, seria necessário que chamemos o porco um homem.

Locke nos dá exemplos de um papagaio racional falando com uma criatura que tem a forma de um homem, mas não pode se envolver em um discurso racional como um experimento mental que demonstra que o discurso racional não é nem uma condição "necessária ou suficiente" para ser um homem. Se o homem é um corpo vivo, um animal com um determinada forma, então, pergunta Locke, o que é uma pessoa? Ele responde a sua própria pergunta: Uma pessoa é um ser pensante inteligente que pode conhecer a si mesmo como a mesma coisa pensante em diferentes tempos e lugares.

Locke faz a distinção entre o homem e pessoa. Essa distinção aparentemente resolve o problema da ressurreição dos mortos. O problema, para Locke, começa com textos bíblicos afirmando que teremos o mesmo corpo na ressurreição como nós temos nesta vida. É claro que há problemas com a suposição de que na ressurreição uma pessoa será a mesma pessoa; e vários estudiosos vem debatendo tal questão, por exemplo, Robert Boyle, em seu ensaio, "Algumas Considerações físico-teológicaa sobre a possibilidade da ressurreição" se aprofunda em alguns desses enigmas. [nota 3]

Locke diz que o caso do príncipe e do sapateiro mostra a resolução do problema da ressurreição.

O corpo do sapateiro e o do príncipe eram os mesmos, mas quem diria que eram as mesmas pessoas?
Ele imagina o que aconteceria se um príncipe passasse a viver como um humilde sapateiro. Dessa forma interroga-se o que aconteceria se introduzisse as características mentais do príncipe no corpo de um sapateiro. Supostamente, o corpo do sapateiro ficaria com a memória, o conhecimento e os atributos pessoais do príncipe, mas apesar de aparentemente ser um sapateiro, seria responsável pelas acções do príncipe.

Nesse exemplo, Locke levanta um questionamento a ser explorado sobre a identidade pessoal de uma pessoa.

...poderia caso a alma de um príncipe, levando consigo a consciência da vida passada do príncipe, entrar e informar o organismo de um sapateiro, tão logo abandonado por sua própria alma, qualquer um vê que ele seria a mesma pessoa com o príncipe, responsáveis apenas pelas acções do príncipe: mas quem diria que era o mesmo homem?

Locke demonstra que o resultado desta troca, é que o príncipe pode ainda considerar-se o príncipe, mesmo que ele se encontra em um corpo totalmente novo. O experimento distingue entre o conceito de ser humano e de ser pessoa, indicando que o conceito de um homem em alturas diferentes está ligado ao seu corpo, enquanto o conceito de pessoa está ligado à sua consciência passada e presente. A distinção de Locke entre o "homem" e a "pessoa" torna possível para a mesma pessoa que resida em um corpo diferente na ressurreição e ainda assim ser a mesma pessoa.

Locke enfoca no príncipe com todos os seus pensamentos principescos, porque, na sua opinião, é a consciência que é crucial para uma recompensa e/ou uma punição que deve ser dispensada no dia do Juízo Final. Neste capítulo sobre identidade (Parte IV, Secção II e VI), Locke também está fazendo uma distinção entre a consciência e a alma.

Embora a distinção entre o homem e a pessoa seja controversa, a distinção de Locke entre a alma (a substância que pensa em nós) e consciência é ainda mais radical [nota 4]. Locke afirma que a consciência pode ser transferida de uma alma para outra, e que a identidade pessoal vai junto com consciência. Na sessão XII do Capítulo: De Identidade e Diversidade, ele levanta a questão: "... Se a mesma substância que pensa for mudada, ela pode ser a mesma pessoa, ou ela permanecendo a mesma, pode ser uma pessoa diferente." Resposta de Locke para ambas as questões é afirmativa. Ele afirma que a Consciência pode ser transferida de uma substância que pensa para outra e, assim, enquanto a alma é alterada, mas a consciência permanece a mesma e, assim, a identidade pessoal também é preservada através da mudança de uma alma para outra alma. E, por outro lado, a consciência pode ser perdida como no esquecimento total, enquanto a substância alma ou pensamento continua o mesmo. Nestas condições, há a mesma alma, mas uma pessoa diferente.

As afirmações de Locke resumem-se na alegação de que a mesma alma (ou substância pensante) não é "necessária" nem é "suficiente" para a identidade pessoal ao longo do tempo. Os argumentos de Locke são desenvolvidos por analogia com a organização funcional dos animais, que é preservada através de mudanças graduais nos átomos que instanciar essa organização a qualquer momento. Assim, em um determinado momento no tempo deve haver uma alma ou substância pensante, mas com o tempo não há necessidade que uma pessoa tenha a mesma alma para preservar a identidade pessoal.

As distinções ("homem e pessoa" e "alma e consciência") criadas por Locke tem implicações em julgamentos criminais no modo como pessoas com insanidade mental são julgadas, uma vez que um ser humano pode ter várias falhas na sua consciência, sem o estabelecimento de memórias. Deste modo, acções executadas estando a consciência separada do corpo ou alma, a identidade da pessoa que efectuou tal acção é posta em causa pelo conceito defendido por Locke.

Religião
Alguns académicos têm observado que as convicções políticas de Locke são derivadas de sua visão religiosa. A trajectória religiosa de Locke inicia-se no calvinismo trinitaniano, mas com a vez das Reflexões (1695) defendeu não apenas visões socinianistas mas também a Cristiologia Sociniana, com a crença na pré-existência de Cristo.

Contudo Arthur W. Wainwright (Oxford, 1987) notou que a interpretação de um versículo bíblico de Efésios 1 em uma edição póstuma de Paráfrase é diferente da dos socinianos como John Bilde, que pode-se levar a crer que Locke possuia uma visão ariana.

Imaterialidade da alma
Com sua estimativa dos limites do entendimento humano, Locke fez algumas reivindicações que surpreenderam seus contemporâneos. No livro IV 3, 6 sugere que, dada a nossa ignorância das substâncias, era possível que Deus pudesse fazer a matéria se adequar eliminando o pensar. Ele sugeriu que não era mais além de nossa compreensão que os movimentos do corpo pudessem dar origem ao prazer e à dor do que uma alma imaterial pode sentir dor após a ocorrência de algum movimentos no corpo. [nota 5] Ele sugeriu que a imaterialidade da alma não era particularmente importante. Em uma passagem do Livro IV, capítulo 2, seção 6, Locke escreve: A matéria pode criar pensamento?
Todos os grandes fins da moralidade e da religião ficam suficientemente assegurados [mesmo] sem provas filosóficas da materialidade da alma; uma vez que é evidente que aquele que, num primeiro momento nos fez seres subsistia aqui, Seres sensatos e inteligentes, e por vários anos continua connosco em tal estado, pode e vai nos restaurar a um estado como o de estado de Sensibilidade em outro Mundo, e fazer-nos lá capazes de receber a retribuição que tem destinada aos homens, de acordo com os feitos nesta vida. E, portanto, esta não é uma poderosa necessidade para determinar de uma forma ou de outra, como alguns super zelosos favoráveis ou contra a imaterialidade da alma, seguem em frente para fazer o mundo acreditar".
Estas sugestões foram muitas vezes tomadas mais intensamente que o previsto. Muitos dos críticos de Locke tinham suspeitas de que Locke tinha tendências materialistas. Ao invés das conclusões cépticas sobre substância imaterial contra a substância material que Locke está claramente defendendo, seus comentários eram, por vezes, tratados como propondo que a matéria pode e faz o pensar.

Samuel Clarke, por exemplo, um estudante de Newton e um teólogo anglicano ortodoxo, engajarem em um debate por panfleto público de 1706 a 1708 com Anthony Collins sobre este assunto. Clarke procurou mostrar que a partir das ideias somente seria possível mostrar que a matéria pensamento implicaria uma contradição. Se está certo Clarke, a interpretação de Locke seria errada. Houve uma explosão de refutações da alegação de que a matéria pode pensar e a discussão desta questão durou pelo menos até perto do fim do século XVIII.

(da vikipedia)