sexta-feira, 30 de março de 2018

A MAÇONARIA OPERATIVA ESCOCESA


A CAPELA DE ROSSLYN



A MAÇONARIA OPERATIVA ESCOCESA

A LOJA DE KILWINNING

A tradição maçónica atribui a fundação da primeira Loja do Rito Escocês à obscura aldeia de Kilwinning, lenda que não encontra mais aceitação entre os historiadores. Entretanto, o que tinha dado certa aparência de base a essa tradição é a existência nessa localidade de ruínas de uma abadia, destruída durante a Reforma.
"A abadia de Kilwinning acha-se situada na bahia de Cunningham, cerca de três milhas ao norte do burgo real do Irving, próximo ao Mar da Irlanda. A abadia foi fundada, no ano 1140, por Hugh Morville, Condestável da Escócia, e dedicada a São Winning, sendo projectada por uma companhia de monges da Tyronesian Order, mandada vir de Kelso. O edifício foi construído com muitas despesas e muita magnificência, visto que, ao que se diz, tinha ocupado vários acres de terreno em sua total extensão." (l)
Lorenzo Frau Abrines afirma, todavia, que foi assim chamada uma torre da Escócia, primeira construção dos Maçons daquele país. (2) Outros (3) asseguram, porém, que a lenda surgiu do fato de se pretender que uma Loja existiu, no século XV, ligada à abadia. Outra tradição nos chega através do trabalho do Rev. W. Lee Ker, Mother Lodge of Kilwinning; do qual Albert Lantoine reproduz uma passagem, na qual afirma o Reverendo existir "uma tradição que se acredita poder fazer remontar no ano 1658, pela qual a Loja de Perth declara que o templo dos freemasons de Kilwinning era o primeiro a ser instituído na Escócia e que esta tradição podia ser fixada no ano 1190." (4)
Kilwinning foi envolvida em muitas lendas e supostas tradições, confidenciadas por uns, sem qualquer prova, e aceites por outros com toda a boa fé, inclusive por escritores como Mackey. No entanto, historiadores modernos como o Ir:. D. Murray Lyon - que Mackey, a quem a lenda agradava pela sua ligação com o Rito Escocês, trata de iconoclastas - destruíram não somente esta, mas ainda outras lendas que lhe estavam ligadas, como a da fraternidade secreta de Harodim, instituída por Robert Bruce rei da Escócia, em Ki1winníng, tendo preferido trabalhar sobre documentos mais positivos e sobretudo autênticos.
Entretanto, em 1598 e em 1599, foram publicados os denominados Estatutos Schaw, regulamentos decretados por William Schaw, Arquitecto do Rei e Vigilante Geral dos Pedreiros da Escócia.
         O primeiro é dirigido a todos os Maçons, o segundo, porém, estabelece a antiguidade das Lojas então existentes na Escócia e estatui o seguinte:
"É declarado necessário e expediente por milord o vigilante geral que Edimburgo será em todos os tempos, como anteriormente, considerada a primeira Loja, e Kilwmning como a segunda, por ser notoriamente manifesto em nossas antigas escrituras que era considerada como tal antes, e que Sterling será a terceira, em consequência de antigos privilégios." (5)
Através dos estudos e pesquisas a que se dedicara o historiador inglês R. F. Gould, a fim de estabelecer o histórico da Maçonaria na Escócia, tendo por base as actas e os registos das lojas, verificou que enquanto a Loja de Edimburgo conservava tais documentos desde o ano 1599, os da Loja de Ki1winning datavam apenas de 1642.
Este facto teve muita importância em 1736, quando da convenção de Saint-Mary's Chapell, convocada para a fundação da Grande Loja da Escócia. Nesta ocasião, a Loja de Ki1winning apresentou a sua pretensão de ser a mais antiga loja da Escócia e que tinha portanto direito de ser registada, na relação das Lojas, com o N.º 1. Não lhe foi possível, não obstante, apresentar documentos hábeis que sustentassem estes pretensos direitos: "Reivindicou uma primazia que a levou a ficar solitária de 1744 a 1807. Agora, porém, aparece no começo da Lista das Lojas da Escócia, com o número 0 e a precedência de antes de 1598". (6)

OS BARÕES DE ROSLIN PATRONOS DA MAÇONARIA ESCOCESA

Um documento datado de 1601, ou seja uma das duas Cartas de Saint-Clair, declara que os Senhores de Roslin eram desde séculos patronos e protectores do Ofício de Pedreiro na Escócia, afirmando o Pocket Companion que o título teria sido concedido em 1441 pelo Rei Jaime II da Escócia, à perpetuidade, para ele e seus sucessores, a William Saint-Clair, Conde de Orkney e Caithness, Barão de Roslin.
Aquele monarca teria também outorgado um direito de jurisdição aos mestres das lojas da Escócia. Foram autorizados a estabelecerem tribunais particulares em todas as grandes cidades e no interesse dos privilégios dos pedreiros. Havia, porém, a obrigação de pagarem ao Estado uma taxa de quatro libras escocesas percebida sobre cada pedreiro que passasse a mestre, podendo, além disso, impor a cada novo membro um direito de recepção. (7)
William Saint-Clair era descendente de uma família francesa que acompanhara Guilherme o Conquistador à Inglaterra. Sob o reinado de Jaime V (1513-1542) da Escócia, pai de Maria Stuart, e humanista fervoroso, o Senhor de Saint-Clair daquela época teria feito uma viagem à Itália. Voltara entusiasmado pelo que vira, e logo mandou trazer construtores italianos a quem confiou a edificação de uma capela no seu domínio de Roslin, "Esta capela ainda hoje está em pé, admirada pelos visitantes pela qualidade de seus ornatos arquitectónicos, onde resplandece todo o simbolismo maçónico da época.
"Não satisfeito de construir uma capela, uniu-os aos pedreiros escoceses, depois organizou-os em confraria, outorgando-lhes uma Carta. Desde então sob a protecção do rei, que se teria nela filiado como membro honorário, ao que parece, esta confraria teve grande desenvolvimento." (8)
Não sabemos que crédito podemos dar a esta informação de Berteloot, que muito se parece às narrativas dos apologistas maçons do século XIX. Limitamo-nos a reproduzi-la sem, garantir a sua autenticidade.

AS SAINT-CLAIR CHARTERS

São dois documentos do maior interesse da Maçonaria operativa escocesa. Um de 1601, a que já nos referimos, o outro de 1628.
O documento de 1601 contém uma petição em beneficio dos Senhores de Roslin, afirmando que depois deles terem sido, durante séculos, patronos e protectores do Ofício de Pedreiros na Escócia, esta tutela tinha sido deixada cair em vacância de modo que, com a expressa autorização de William Saint-Clair, quando o castelo de Roslin fora tomado e incendiado pelo Conde de Hertford, os pedreiros escoceses resolveram outorgar aos barões de Saint-Clair nova Carta de jurisdição sobre eles.
O novo documento, que não traz data, foi lavrado em Edimburgo pelo tabelião Laurentius Robesom. Nele são reconhecidos e novamente confirmados todos os privilégios e prerrogativas outorgados aos Saint-Clair pelo soberano do Estado.
O outro documento, ou seja a Carta de 1628, confirmando o precedente de 1601 e completando-o, outorga a jurisdição de todos os pedreiros da Escócia à família de Saint-Clair de Roslin. Foi assinado pelos representantes das Lojas de Edimburgo, Dundee, Glasgow, Sterling, Dumfermline, Ayr e Saint-Andrews.
Este último documento não chegou a ser reconhecido pela coroa, por ter o Rei Carlos I indicado, em 1629, Sir Anthony Alexander para Mestre da Obra e Vigilante Geral, e sumaria¬mente posto de lado a pronta objecção de William Saint-Clair. (10)
Como já dissemos, esta Carta está sem data, supondo Findel que ela deve datar dos anos 1628 a 1630. E este historiador observa: "Por esses documentos, verificamos que a Maçonaria operativa escocesa tornara-se uma espécie de "companheirismo", destinado a manter entre os operários de um agrupamento ou ofício as tradicionais práticas estabelecidas para o exercício do mesmo".
A decadência que paulatinamente atingiu estas associações operativas escocesas chegou a tal extremo que, em 1695 todas as antigas Lojas da Escócia haviam cessado de trabalhar.

OS ESTATUTOS SCHAW

A Maçonaria escocesa não possuiu Old Charges como a sua congénere inglesa. As poucas cópias encontradas foram visivelmente copiadas de fontes inglesas, e uma ou duas concitam ingenuamente os profissionais escoceses a serem leais ao Rei da Inglaterra. (11)
Não obstante, a Maçonaria escocesa possui outros documentos do período operativo, como, por exemplo, as Cartas de Saint-Clair e, principalmente, os Estatutos Schaw que nenhum outro supera.
Na qualidade de Mestre das Obras da Coroa da Escócia e Vigilante Geral dos Pedreiros, William Schaw (1550-1602), que fora nomeado para este cargo, em 1593, por Jaime VI, promulgou dois regulamentos, em 1598 e 1599, os quais organizavam a associação e regulamentavam a profissão.
O primeiro, datado de 28 de Dezembro de 1598, está escrito em papel e redigido em dialecto escocês: “Embora contendo substancialmente os regulamentos gerais encontrados nos manuscritos ingleses, deles difere materialmente em muitos particulares. Mestres, Companheiros e Aprendizes são claramente referidos, mas só como gradações de posição, e não como graus, e a palavra Ludge ou Loja é constantemente usada para definir o lugar de reunião." (12)
Este regulamento circulou por todas as lojas escocesas e uma cópia dele consta do primeiro livro de actas da Loja Saint Mary's Chapell, de Edimburgo. Outra cópia existe no livro de actas da adormecida Loja de Aitchinson's Haven, enquanto o original desta e o segundo documento datado de 1599, são conservados pela Loja de Kilwinning. (13) Bernard E. Jones nos fornece um resumo deste célebre documento: “Ordena-se aos Irmãos que observem as ordenações e sejam leais para com os outros, obedientes aos Vigilantes, Diáconos e Mestres, sendo honestos, diligentes e rectos.
"Ninguém poderá tomar a seu cargo um trabalho a menos que possa completá-lo satisfatoriamente, e nenhum Mestre poderá suplantar outro, ou aceitar um trabalho incompleto, sem que o primeiro Mestre seja devidamente satisfeito.
"Será feita anualmente a eleição de um Vigilante. (14)
"Nenhum Mestre poderá ter mais de três Aprendizes no decorrer de sua vida e o aprendiz não lhe deverá ser confiado por um espaço inferior a sete anos, e não poderá ser feito Companheiro se não tiver servido por um espaço adicional de sete anos. É proibido aos Mestres vender os seus Aprendizes ou receber um Aprendiz sem informar o Vigilante da Loja para que o seu nome e data de recepção sejam devidamente registados.
"Nenhum Mestre ou Companheiro do Oficio poderá ser aceito ou admitido, a não ser em presença de seis Mestres e dois Entered Apprentices, (15) sendo o Vigilante da Loja um dos seis. A data deverá ser devidamente registada e "o seu nome e a sua marca (16) insertos" no referido livro, junto com os nomes dos seis Mestres, dos Aprendizes e do Intendente.
"Ninguém poderia ser admitido sem um exame e uma prova de perícia. Um Mestre não está autorizado a empregar-se em trabalho a cargo de outro artífice, ou receber cowans (17) para trabalharem em sua sociedade ou companhia, ou mandar algum de seus serventes trabalhar com eles. Os Aprendizes Entrados não podem encarregar-se da execução de trabalhos acima do valor de dez libras.
"Qualquer contenda entre Mestres, Companheiros e Aprendizes deverá ser notificada à Loja dentro de vinte e quatro horas, e sua decisão aceita. Mestres e outros são obrigados a todas as precauções indispensáveis na montagem do andaime, e se ocorrerem acidentes por sua negligencia não poderão actuar como Mestres, ficando sujeitos a outros.
"Os Mestres não poderão receber Aprendizes fugitivos.
"Todos os membros devem assistir às reuniões quando legalmente prevenidos, e todos os Mestres presentes em qualquer assembleia ou reunião deverão jurar "por seu grande juramento" não esconder ou ocultar qualquer prejuízo causado a alguém ou ao proprietário do trabalho. Finalmente, as várias multas atribuídas ao que precede devem ser cobradas e distribuídas pelos oficiais da Loja." (18)
O segundo Estatuto de Schaw, como já vimos, determina que a Loja de Edimburgo devia ser considerada a primeira Loja da Escócia e Kilwinning a segunda, Sterling seria a terceira "em consequêcia de antigos privilégios". Esta é a primeira vez na história em que se fala de Lojas como corpos de pedreiros organizados.

Os Vigilantes (Mestres) de cada Loja são responsáveis perante as autoridades pelos pedreiros sujeitos à sua loja, e regulam a eleição desses Vigilantes. Autoriza aos Vigilantes de Kilwinning a examinar as habilitações dos Companheiros que estão dentro do seu distrito sobre a sua arte, profissão ou ciência, com o objectivo de tornar tais Vigilantes devidamente responsáveis por estas pessoas como sujeitas a eles.
Os Companheiros de Ofício na entrada, e antes de sua admissão, devem pagar à loja dez libras com dez shillings pelo valor das luvas, estando nesta importância incluído o valor do banquete.
Os Companheiros não poderão ser admitidos sem uma prova de habilitação suficiente. Os Aprendizes, na admissão, devem pagar seis libras para o banquete em comum, ou pagam a refeição. Os Vigilantes e Diáconos da Loja de Kilwinning devem tomar anualmente o juramento de todos os Mestres e Companheiros do Ofício confiados ao seu cuidado, e os mestres e seus serventes ou aprendizes não devem trabalhar com cowans.
Os Estatutos de Schaw eram considerados na Escócia com a mesma veneração que os ingleses demonstravam aos seus Old Charges. Cada Loja escocesa possuía uma cópia desses estatutos que lhe serviam de referência e constituíam a autoridade sob a qual eram controlados os membros operativos.
Em 1952, o Conde de Eglington doou à Grande Loja da Escócia os originais dos Estatutos de Schaw, os quais se acham, agora, conservados na Biblioteca da Grande Loja.


CARACTERÍSTICAS DA MAÇONARIA OPERATIVA ESCOCESA

Além dos documentos descritos nas páginas que precedem, a Maçonaria escocesa possui velhos documentos em grande qualidade inclusive livros de atas de lojas, os mais antigos dos quais são os da Loja de Edimburgo. Esta Loja, Guilda ou Corporação dos Construtores e Pedreiros de Edimburgo "que se reúne em Saint-Mary's Chapell sobre a Ponte Sul" foi estabelecida em 1475.
Na Inglaterra, como já vimos, a associação que prevaleceu sobre as demais foi a corporação, já na Escócia não se sabe se foi a corporação ou a loja que surgiu primeiro (21). Com referência aos livros de actas J. Marquês-Riviére escreve: "possuímos as actas de Lojas escocesas tais como a de Saint-Mary's de Edimburgo, que data de 1475, e cujos textos remontam até 1599. Possuímos as actas das Lojas de Glasgow desde 1620, Scoon e Perth (1658), Aberdeen (1670). Melrose (1674), Dumblanc (1675), Dumfries (1687). (22)
Albert Lantoine acrescenta a esta relação as actas da Loja de Kilwinning, que começam em 1642, e diz que o historiador inglês Gould pôde, por meio delas e dos registos ainda existentes fazer o histórico da Maçonaria Operativa na Escócia (23) .
A Maçonaria operativa escocesa teve características próprias, as quais, tão logo surgiu a Maçonaria especulativa, nela foram introduzidas fazendo parte integral do ritual maçónico, como veremos.
O termo loja, por exemplo, adquire na Maçonaria Operativa escocesa uma extensão que não possui na organização inglesa. Os Estatutos Schaw usam esta palavra para se referirem a uma organização sempre bem conhecida e significando um corpo de pedreiros controlando o trabalho de construção numa determinada cidade, o que Douglas Knoop chamou uma "Loja Territorial" para diferenciá-la da reunião dos maçons operativos de uma loja, ou do alpendre levantado ao lado de uma construção (24).
Por outro lado, para o talhador de pedra, os escoceses não usam o termo de freemason, empregado pelos ingleses, dizem simplesmente mason. Para eles freemason tem o significado de um pedreiro aceito na guilda como um homem livre. (25)
Embora a Maçonaria seja um produto genuinamente inglês, está fora de dúvida que os homens que a organizaram, e principalmente o Dr. Anderson que era escocês, (26) foram buscar na Escócia muitos elementos constitutivos: graus, toques, palavra de passe, etc. Os Estatutos de Schaw devem ter sido para eles o manancial no qual foram buscar os materiais necessários para que fosse dada forma ao ritual e à associação na sua fase especulativa. Posteriormente, sob o nome de Escocismo (27), outros foram encontrar bases diferentes para mais um desenvolvimento da Instituição.
Sabe-se, por outra, que John Boswell, Laird de Auchin¬lech, foi recebido Maçom, a 8 de Junho de 1600, na Loja de Saint-Mary's Chapell, de Edimburgo, sendo, portanto, o primeiro maçom "aceito" conhecido (28).
Até as perseguições de que foram posteriormente vitimas os Maçons, parecem um legado da Maçonaria Operativa escocesa, onde já existia aversão pelo vocábulo mason. Em sua History of the Lodge of Edimburgh, refere David Murray Lyon que sendo Rev. James Ainslie acusado de ser Maçom, os membros do presbitério de Kelso, a 24 de fevereiro de 1652 deram-lhe julgamento favorável.
Existe ainda na Maçonaria escocesa a particularidade do Mason's word, a Palavra do Maçam: Distinguia o Pedreiro habilitado do pedreiro grosseiro, do cowan, da qual não foram encontrados vestígios nos documentos medievais ingleses (29). O Mason’s word, ao que tudo indica, era também transmitido aos Maçom aceitos.
"As Lojas têm com certeza a Palavra, que é algo mais que uma expressão. O Rev. Robert Kirk, Ministro de Aberfoyle, fazia uma descrição, em 1691, dizendo que era algo "parecendo uma tradição rabínica, uma passagem comentando Jachin e Boaz, os dois Pilares erigidos no Templo de Salomão (I Reis, VII, 21) com a audição de algum sinal secreto, transmitido de mão para mão, pelo qual se reconhecem e se tornam familiares um com o outro."
"A descoberta dos catecismos descritos em outra parte, confirmou que no encerramento da cerimonia de admissão a palavra circulava entre os irmãos e que havia dois graus distintos, o Entered Apprentice e o Companheiro ou Mestre (30)".
O Rev. Kirk afirmou em seu livro que tinha encontrado "cinco curiosidades na Escócia, que não são observadas em outra parte". A segunda era a Palavra do Maçom. (31)
De acordo com o Manuscrito Edinburgh Register House de 1696, havia na Maçonaria operativa escocesa, por ocasião da admissão dos candidatos, trotes nos quais "o decoro era notável pela sua ausência". Também indica a existência de dois degraus em cerimónias separadas sendo um conferido aos entered apprentices, a outra aos Companheiros ou Mestres.
Em 1670, a Loja de Aberdeen admitia os seus aprendizes em importante cerimónia na qual não somente lhe era comunicada a Palavra do Maçom, mas também lhes era lida perante a Loja uma versão das Old Charges, assim como as Leis e os Estatutos da Loja.
O mesmo manuscrito indica que a pessoa admitida na associação era introduzida por uma versão dos cinco pontos da companhia, os quais diferiam apenas em detalhes da que hoje possuímos (32)
Todos estes fatos, que apontam a origem de muitos usos e costumes maçanicos, nos levam a pensar que a parte trazida pela Maçonaria operativa escocesa, na organização da Maçonaria especulativa, foi bastante considerável. Aliás, isto não escapou aos estudiosos do assunto, conforme se pode ler na excelente The Pocket History of Freemasonry: "Uma sugestão foi feita recentemente, que deu causa para muita controvérsia, é que a ponte entre a Maçonaria Operativa e a Especulativa assentaria principalmente na Escócia, em fins da Era Operativa, e na Inglaterra, na época especulativa. Que poderemos inferir de tão útil informação?" (33)

NOTAS E REFERÊNCIAS
1 - Albert G. Mackey - An Encyclopaedia 01 Freemasonry - Art.
         KiIwinning.
2 - Lorem~o Frau Abrines - Diccionario Enciclopedico Abreviado
         de Ia. Masoneria - Artigo Kilwinning.
3 -- Fred L. Pi.1{e & G. Norman Knight - The Freemason's l'ocket;
         Reference Book - F. Muller Ltda. - London - 1955, pág. 152.
4 - Albert Lantoine - La Franc-Maçonne.rie chez ElIe - EmlIe
         Nourry - Paris - 1925, pág. 126.
6 - 1<'red L. Pike & G. Norman Knight - The Pocket History 01
         Freemasonry - F. Muller Ltd - London - 1963 pág. 172.
7 - Paul Naudon - Origines Religieuses et Corporatives de Ia
         Franc-Maçonnerie, pág. 223.
8- J. Berteloot - Les Francs-Maçoll!1 devant I'Histoirc - J!:d. du
         Monde Nouveau - ParIs - 1949 ,págs. 41-42.
Referindo-se à Capela de Roslin, o The Freemason's Pocket Refel'ence Book observa: "A Pedra fundamental da Capela de Roslin foi colocada em 1446 e a construção foi concluía da antes do fim do século. O fundador, Slr William Saint-Clair faleceu antes da conclusão da obra e foi enterrado na capela' inacabada que é um museu de trabalho arquitectural!. Conta-se que um dos mais lindos pilares foi esculpido por um aprendiz durante a ausência do seu mestre que, na sua volta, inflamou-se de inveja, matando o aprendiz com um golpe de malhete."
Não será estranho que os ritualistas Maçons do século XVII! que andavam às apalpadelas, tivessem ido buscar nesta lenda um dos elementos constitutivos da Lenda de Hiram.
9 - The Pockd Bistory of Fr., pág. 173.
10 - Idem, pág. 173. - Dissemos em nossa História da Maçonaria, págs. 136-137 que, tendo resignado, a 24 de Novembro de 1738, desses direitos hereditários, que por sinal, naquela altura, não valiam mais grande coisa, a fim de não "causar prejuízo aos interesses da corporação de que eram membros, um descendente dos Roslin, também de nome William, foi eleito, a 30 do mesmo mês, primeiro Grão-Mestre da Grande Loja da Escócia que acabava de ser constituída.!
11 - The Pocket History pág. 171.
12 - Mackey - Encyclopedia - Artigo Schaw, Statutes. 13 - The Pocket Reference Book - pág. 240.
14 ~ Aqui, Vigilante tem o sentido de Mestre da Loja, ou Venerável.
15 - Entered Apprentice, ou Aprendiz Entrado ou Introduzido, era assim chamado aquele que depois de completar o seu aprendizado, permanecia mais sete anos de tempo adicional, antes de ser feito Companheiro. Era registado nos livros da guilda, mas ainda não obtivera do seu mestre a liberdade de trabalhar como operário por sua própria conta. Era um estagiário, como diríamos actualmente. Neste estágio, era provável que tivesse recebido a Palavra do Maçom, sendo Knoop de opinião que tal coisa teria sido estabelecida por volta do ano 1550.
18 - Durante o período operativo, cada talhador de pedra tinha uma marca particular que esculpia nas pedras por ele trabalhada. Era como se fora a sua assinatura nos trabalhos que executava. As marcas eram desenhos geométricos representando cruzes, rodas, objectos os mais variados, peixes, etc., existindo, na relação apresentada por Bernard E. J'ones, na sua obra, sob o n.º 44, encontrada no Stcnyhurst College, uma igual ao símbolo do IV Centenário do Rio de Janeiro.
Os Estatutos de Torgau de 1462 referem-se a uma festa solene de admissão, na qual não era permitido ao trabalhador o uso de sua marca, que lhe era proibido gravar antes de ser examinado e aprovado pelo Mestre ou pelo Vigilante da. Loja. Segundo o The Pocket Reference Book. pág. 1'7'2, a Loja de Aberdeen possui um bonito livro de Marcas, datando de 1670.
17 - É o operário grosseiro que não possui o Mason's Word. Posterriormente, o vocábulo adquiriu o sentido de "profano".
18 - Bemard E. J'ones - Freemasons Guide and Compendium páginas 128-129.
19 - Idem, pág. 129.
20 - The Pocket History, pág. 289.
21 - Bernard E. J'ones, ob. cito pág. 125.
22 - J. Marquês-Riviêre - Bistoire de La F. M. Française, pág. 40. 23 - A. Lantoine - La F. M. chez ElIe, pág. 177.
24 - B. E. J'ones, ob. cit., páJt. 125.
25 - Idem, págs. 124-125.
26 - De acordo com A. Lantoine, ob. cito pág. 127, consta dos registos da Loja de Edimburgo que, em data de 24 ae agosto do
1721, O Dr. J. T. Desaguliers, mestre geral das Lojas da Ingla¬terra, foi admitido a participar dos seus trabalhos.
27 - As origens do Escocismo, produto genuinamente francês, ainda continuam nebulosas. Além de outras razões pode ser acrescentada este falta. Sabendo-se que Anderson foi o compilador e Desagulliers o inspirador das Constituições de 1723, regulamentando a Maçonaria Especulativa inglesa, e que para isso conseguir viram-se obrigados a buscar numerosos elementos na Maçonaria escocesa, os adversários da Grande Loja de Londres, políticos ou adeptos dos altos graus, baptizaram este tipo de Maçonaria, de Maçonaria escocesa, decantando-a como superior à Maçonaria inglesa, que propugnava pela manutenção Exclusiva do sistema de três graus da Maçonaria operária e consequentemente plebeus.
28 - D. Murray-Lyon, em sua Bistory of the Lodge 01 Edinburgh apresenta um fac-simile da assinatura de Boswell, acompanhara de um símbolo; uma cruz dentro de um círculo. o que revela a sua Qualidade de Rosacruz, pág. 55.
29 - The Pocket Bistory of Freemasonry, pág. 55. 30 - Idem, págs. 174-175.
31 - Bernard E. Jones - ob. cito pág. 132.
32 - The pocket Bistory, págs. ]75-176.
83 - Idem, pág. 57. 
NICOLA ASLAN

A MAÇONARIA OPERATIVA

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