domingo, 18 de março de 2018

Giovanni Pico della Mirandola



Giovanni Pico della Mirandola

Giovanni Pico della Mirandola (Mirandola, 24 de Fevereiro de 1463 — Florença, 17 de Novembro de 1494) foi um erudito, filósofo neoplatónico e humanista do Renascimento italiano.

Vida
Giovanni, o filho mais jovem de Gian Francesco I e Giulia Boiardo, conde e condessa de Concordia e de Mirandola no Ducado de Modena, desde a infância impressionava por seus dotes intelectuais que incluíam uma extraordinária memória e dons artísticos muito desenvolvidos. Decidiu dedicar a sua vida inteiramente aos estudos e com apenas catorze anos de idade, partiu para a Universidade de Bolonha com o objectivo de estudar Direito Canónico e preparar-se para seguir a carreira eclesiástica. Entretanto, insatisfeito com os estudos puramente jurídicos, decidiu aprofundar-se em Filosofia e Teologia que despertaram-lhe a predilecção.

Giovanni passou ainda sete anos viajando pela Itália e França, estudando em suas principais faculdades em Ferrara, Pádua e Paris, enquanto se dedicava a aprender os idiomas latino, grego, hebraico, árabe e sírio.

Após adquirir, em suas viagens pela Europa, cerca de sessenta manuscritos atribuídos ao sacerdote e escriba judeu Esdras, filho do sumo sacerdote Seraías e autor bíblico de um dos livros históricos de mesmo nome do Antigo Testamento (cfe. mencionado em II Reis 25:18-21), Giovanni veio a interessar-se pelo estudo da Cabala e do Talmud, tendo a ideia de combinar esse conhecimento místico-religioso com a filosofia.

O seu objectivo principal era conciliar religião e filosofia. Assim como o seu mestre Marcílio Ficino, Giovanni baseava as suas concepções principalmente em Platão, em oposição a Aristóteles. Todavia Giovanni era em essência um eclético e em muitos aspectos, ele representava uma reacção contra os exageros do Humanismo. De acordo com ele, deveríamos estudar as fontes hebraicas e talmúdicas, enquanto que as melhores conquistas da escolástica deveriam ser preservadas. O seu Heptaplus, uma exposição místico-alegórica da criação do mundo de acordo com os sete sentidos bíblicos, segue essa ideia; ao mesmo período pertence De ente et uno, com explanações de várias passagens dos livros mosaicos, platónicos e aristotélicos.

Já em Roma, no ano de 1486, Giovanni com apenas 23 anos de idade, publica as suas polémicas 900 teses intituladas Conclusiones philosophicae, cabalisticae et theologicae, onde ele acreditava ter desvelado as bases de todo o conhecimento da humanidade, combinando elementos do neoplatonismo, hermetismo e cabalismo, além de versar sobre lógica, matemática, física. Ele se oferece para pagar as despesas de qualquer um que estivesse disposto a vir até Roma e enfrentá-lo em uma discussão pública sobre as teses. Neste ano publica o seu trabalho mais conhecido, De hominis dignitate oratio (Discurso sobre a Dignidade do Homem), que serve como uma introdução às 900 teses.

Entretanto, das 900 teses, treze foram consideradas heréticas pela Igreja Católica e ele é proibido de ir adiante com as discussões públicas. Uma comissão de inquérito da igreja convida Giovanni para retratar-se, o que ele efectivamente faz. Giovanni tenta ainda defender as suas treze teses com o opúsculo Apologia Ioannis Pici Mirandolani, concordiae comitis, mas não obtém sucesso. Contrafeito com a condenação, decide viajar novamente, visitando a França e em seguida retornando à Florença.

Ao final de sua vida, destrói seus trabalhos poéticos e torna-se um defensor do Cristianismo contra os judeus, muçulmanos e astrólogos. Morre jovem em 1494, aos 31 anos, após sucumbir a uma febre, no dia em que Carlos VIII da França entrou em Florença, após expulsar Piero de Médici. Giovanni é considerado o primeiro erudito cristão a mesclar elementos da doutrina cabalística e teologia cristã.

Seu sobrinho, o também filósofo e erudito Giovanni Francesco Pico della Mirandola, escreveu uma detalhada biografia de Giovanni em 1496, chamada Ioannis Pici Mirandulae Vita.

Filosofia
Na Oratio, Giovanni justifica a importância da busca humana pelo conhecimento numa perspectiva neoplatônica. Ele afirma que Deus, tendo criado todas as criaturas, foi tomado pelo desejo de gerar uma outra criatura, um ser consciente que pudesse apreciar a criação, mas não havia nenhum lugar disponível na cadeia dos seres, desde os vermes até os anjos. Então Deus criou o homem, que ao contrário dos outros seres, não tinha um lugar específico nessa cadeia. Em lugar disso, o homem era capaz de aprender sobre si mesmo e sobre a natureza, além de poder emular qualquer outra criatura existente. Desta forma, segundo Giovanni, quando o homem filosofa, ele ascende a uma condição angélica e comunga com a Divindade, entretanto, quando ele falha em utilizar o seu intelecto, pode descer à categoria dos vegetais mais primitivos. Giovanni, deste modo, afirma que os filósofos estão entre as criaturas mais dignificadas da criação.

A ideia de que o homem pode ascender na cadeia dos seres pelo exercício de suas capacidades intelectuais foi uma profunda garantia de dignidade da existência humana na vida terrestre. A raiz da dignidade reside na sua afirmação que somente os seres humanos podem mudar a si mesmos pelo seu livre-arbítrio. Ele observou na história humana que filosofias e instituições estão sempre evoluindo, fazendo da capacidade de auto-transformação do homem a única constante.


Em conjunto com sua crença que toda a criação constitui um reflexo simbólico da Divindade, a filosofia de Giovanni teve uma profunda influência de Raimundo Lúlio. Nas artes, ajudou a elevar o status de escritores, poetas, pintores e escultores, como Leonardo da Vinci e Michelangelo, de um papel de meros artesãos medievais a um ideal renascentista de artistas considerados génios que persiste até os dias actuais.

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