João Sem Terra concedendo a Magna Carta
baseado nos afrescos de Ernest Normand
Magna Carta
Magna Carta (em português
"Grande Carta") é forma reduzida do título, em latim, da Magna Charta Libertatum, seu Concordiam
inter regem Johannen at barones pro concessione libertatum ecclesiae et regni
angliae (Grande Carta das liberdades, ou concórdia entre o rei João e os
barões para a outorga das liberdades da Igreja e do rei Inglês), um documento
de 1215 que limitou o poder dos
monarcas da Inglaterra, especialmente o do rei João, que o assinou, impedindo
assim o exercício do poder absoluto. Resultou de desentendimentos entre João, o
Papa e os barões ingleses acerca das prerrogativas do soberano. Segundo os
termos da Magna Carta, João deveria renunciar a certos direitos e respeitar
determinados procedimentos legais, bem como reconhecer que a vontade do rei estaria sujeita à lei. Considera-se a Magna Carta
o primeiro capítulo de um longo processo histórico que levaria ao surgimento do
constitucionalismo.
Antecedentes
históricos
Após
a conquista normanda de 1066 e os desdobramentos históricos do século XII, o
rei da Inglaterra se tornara na virada do século XIII um dos soberanos mais
poderosos da Europa, devido ao sofisticado sistema de governo centralizado introduzido
pelos normandos e às amplas possessões anglo-normandas no continente.
Entretanto, uma extraordinária sequência de fracassos da parte do rei João -
que subira ao trono inglês no início do século XIII - levou os barões ingleses
a se revoltar e a impor limites ao poder real.
Foram três os
seus grandes fracassos.
Primeiro,
o rei não tinha o respeito dos seus súbitos, devido à maneira pela qual tomou o
poder após a morte de Ricardo Coração-de-Leão. João mandou aprisionar e, ao que
parece, liquidar o seu sobrinho e co-pretendente ao trono, Artur da Bretanha,
causando a rebelião da Normandia e da Bretanha contra o rei inglês.
Em
segundo lugar, João fracassou em sua tentativa de reconquistar os territórios
ingleses tomados por Filipe Augusto de França, fracasso este que ficou patente
com a batalha de Bouvines, em 1214. Não é por este motivo que João é chamado de
"Sem Terra" (Lackland), mas sim porque, sendo o filho mais novo, não
recebera terras em herança, ao contrário de seus irmãos mais velhos.
O
terceiro fracasso de João foi envolver-se numa controvérsia com a Igreja
Católica acerca da indicação do Arcebispo da Cantuária. O rei recusou-se a
aceitar a indicação feita pelo Papa para a posição e, em consequência, a
Inglaterra foi colocada sob sentença de interdição até que João se submetesse,
em 1213.
A Magna Carta
e eventos subsequentes
Em
10 de Junho de 1215, os barões, revoltados com os fracassos do rei, tomaram
Londres e forçaram João a aceitar um documento conhecido como os "Artigos dos Barões", ao qual o
grande selo real foi aposto em Runnymede, em 15 de Junho do mesmo ano. Em
troca, os barões renovaram os seus juramentos de fidelidade ao rei em 19 de Junho.
Um diploma formal, preparado em 15 de Junho pela chancelaria para registar o
acordo entre o rei João e os barões, ficou conhecido como Magna Carta. Cópias
desta foram enviadas a funcionários tais como xerifes e bispos.
A
cláusula mais importante para João, naquele momento, era a 61ª, conhecida como
"cláusula de segurança" e
a mais extensa do documento. Estabelecia um comité de 25 barões com poderes
para reformar qualquer decisão real, até mesmo pela força se necessário.
João
não pretendia honrar a Magna Carta, já que esta havia sido selada sob coerção;
ademais, a cláusula 61 anulava, para todos os efeitos práticos, as suas
prerrogativas como monarca. O rei, portanto, repudiou o documento assim que os
barões deixaram Londres, o que mergulhou a Inglaterra numa guerra civil.
João
viria a morrer em Newark, Inglaterra, em 18 de Outubro de 1216, possivelmente
envenenado por um abade irritado por ele ter tentado seduzir uma freira e
encontra-se sepultado na catedral de Worcester. Subiu ao trono seu filho
Henrique III, em Outubro de 1216. A Magna Carta foi repristinada em nome de seu
filho e sucessor, Henrique III, pela regência (Henrique era menor de idade), em
Novembro daquele ano, suprimindo-se algumas cláusulas, inclusive a 61ª. Quando
atingiu a maioridade, aos 18 anos, em 1225, Henrique republicou o documento
mais uma vez, numa versão ainda mais curta, com apenas 37 artigos.
Na
altura da morte de Henrique, em 1272, a Magna Carta já se tinha incorporado ao
direito inglês, o que tornaria mais difícil a um futuro soberano anulá-la. O
Parlamento de Eduardo I, filho e sucessor de Henrique, republicou o documento
uma última vez, em 12 de Outubro de 1297, como parte de um estatuto conhecido
como Confirmatio cartarum e que
confirmava a versão curta de 1225.
Os termos da
Magna Carta de 1215
A
Magna Carta foi redigida em latim.
O
documento garantia certas liberdades políticas inglesas e continha disposições
que tornavam a Igreja livre da ingerência da monarquia, reformavam o direito e
a justiça e regulavam o comportamento dos funcionários reais.
Grande
parte da Magna Carta foi copiada da Carta
de Liberdades de Henrique I, outorgada em 1100 e que submetia o rei a certas leis acerca do tratamento de
oficiais da igreja e nobres – o que na prática concedia determinadas liberdades
civis à igreja e à nobreza inglesa.
O
documento compõe-se de 63 artigos ou cláusulas, a maioria referente a assuntos
do século XIII e de importância datada (e.g., redução das reservas reais de
caça). O texto é um produto de negociação, pressa e diversas mãos.
Uma
das cláusulas que maior importância teve ao longo do tempo é o artigo 39
(tradução livre a partir de uma versão em inglês):
"Nenhum homem livre será preso, aprisionado
ou privado de uma propriedade, ou tornado fora-da-lei, ou exilado, ou de
maneira alguma destruído, nem agiremos contra ele ou mandaremos alguém contra
ele, a não ser por julgamento legal dos seus pares, ou pela lei da terra."
Significa
que o rei devia julgar os indivíduos conforme a lei, seguindo o devido processo
legal, e não segundo a sua vontade, até então absoluta.
O
artigo 40 dispõe:
"A ninguém vendemos, a ninguém recusaremos ou
atrasaremos, direito ou justiça."
Tais
cláusulas representavam um freio ao poder do rei e o primeiro capítulo de um
longo processo que levou à monarquia constitucional e ao constitucionalismo.
Importância
A
versão de 1225 da Magna Carta é o primeiro estatuto inglês e a pedra angular da
constituição britânica. Tornou-se especialmente importante no século XVII, com
o recrudescimento do conflito entre a coroa e o Parlamento. Foi revisada
diversas vezes, de maneira a garantir mais amplos direitos a um número maior de
pessoas e preparando o terreno para o surgimento da monarquia constitucional
britânica.
A
Magna Carta de 1297 ainda integra o direito inglês, embora apenas os artigos 1,
9 e 29, bem como parte da introdução, estejam em vigor.
(da
Vikipédia)
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